quarta-feira, 20 de novembro de 2024

No meu tempo era diferente! | (Prólogo)


quando eu tinha a tua idade no meu tempo era diferente enquanto você viver debaixo do meu teto você não sabe o que é cansaço não me faça parar o carro de castigo agora mesmo pois saiba que dinheiro não dá em árvore tenha juízo coloca um casaco quando você for mais velho você vai entender não coloca a mão na boca não esquece de escovar os dentes você já está muito crescidinho pra isso já comeu alguma coisa isso é hora de estar acordado dê um beijo na titia dê um abraço no seu irmão diz tchau para o amiguinho já passou da hora você precisa comer direito parece comigo quando eu era jovem só não esquece a cabeça porque tá grudada no pescoço me dê a mão para atravessar a rua será sempre o meu bebê não chegue tarde em casa querer não é poder tira isso da boca menina avise quando chegar não levante a voz comigo não foi isso que te ensinei tenha modos você não para quieta qual é a palavrinha mágica não é pra correr dentro de casa não vá dormir muito tarde chega de videogame por hoje se você não estudar não vai chegar em lugar nenhum você não é os outros eu te amo porque sim tira o dedo do nariz tanta gente com fome e você desperdiçando comida onde você estava com quem você vai sair que horas vai chegar em casa se colocar no prato vai ter que comer deus te abençoe e te guarde meu filho minha filha aconteceu alguma coisa você passa muito tempo no celular nem vai doer é só uma picadinha o gato comeu a sua língua como foi na escola estudou para a prova senta direito na volta a gente compra o que você quer ser quando você crescer pare de bancar o palhaço você ainda vai me matar de desgosto se apanhar na rua vai apanhar em dobro quando chegar em casa espera só sua mãe chegar o que você tem na cabeça não fale com estranhos deixe de ser bicho do mato já está pronta pra casar vou contar até três o que eu acabei de dizer não me faça voltar eu não quero ouvir um pio passa pra dentro você nem experimentou é como falar com a parede esse quarto parece um chiqueiro se eu for aí você vai ver quantas vezes eu tenho que perguntar não importa quem começou já mandei parar eu disse talvez se você perguntar de novo a resposta é não vai ser assim e pronto se comporte como uma mocinha rapazinho engole esse choro agora você vai aprender a me tratar que nem gente se eu for até aí e achar você me paga olha pra mim quando eu estiver falando com você você não é todo mundo espera só a gente chegar em casa quer me matar do coração você me respeite quebra mesmo não foi você que pagou não fez mais do que a sua obrigação eu não durmo à noite por sua causa quando eu morrer você vai me dar valor estou falando para o seu bem um dia você vai me agradecer um dia você vai ter filhos e vai entender

Bethânia Pires Amaro, em O ninho

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