Vencera
meu pai; dispus-me a aceitar o diploma e o casamento, Virgília e a
Câmara dos Deputados. – As duas Virgílias, disse ele num assomo
de ternura política. Aceitei-os; meu pai deu-me dois fortes abraços.
Era o seu próprio sangue que ele, enfim, reconhecia. Rigorosamente,
o filho dele acabava de desembarcar naquele instante, de rodaque de
linho e mãos nos bolsos. Havia então nos olhos de meu pai alguma
coisa do velho Cid; era a alma que coligira numa só flama todas as
últimas centelhas.
– Desces
comigo?
– Desço
amanhã. Vou fazer primeiramente uma visita a Dona Eusébia...
Meu
pai torceu o nariz, mas não disse nada; despediu-se e desceu. Eu, na
tarde desse mesmo dia, fui visitar Dona Eusébia. Achei-a a
repreender um preto jardineiro, mas deixou tudo para vir falar-me,
com um alvoroço, um prazer tão sincero, que me desacanhou logo.
Creio que chegou a cingir-me com o seu par de braços robustos.
Fez-me sentar ao pé de si, na varanda, entre muitas exclamações de
contentamento:
– Ora,
o Brasinho! Um homem! Quem diria, há anos...
Um
homenzarrão! E bonito! Qual! Você não se lembra bem de mim...
Disse-lhe
que sim, que não era possível esquecer uma amiga tão familiar de
nossa casa. Dona Eusébia começou a falar de minha mãe, com muitas
saudades, com tantas saudades, que me cativou logo, posto me
entristecesse. Ela percebeu-o nos meus olhos, e torceu a rédea à
conversação; pediu-me que lhe contasse a viagem, os estudos, os
namoros... Sim, os namoros também; confessou-me que era uma velha
patusca.
Nisto
recordei-me do episódio de 1814, ela, o Vilaça, a moita, o beijo, o
meu grito; e estando a recordá-lo, ouço um ranger de porta, um
farfalhar de saias e esta palavra:
– Mamãe...
mamãe…
Machado de Assis, em Memórias Póstumas de Brás Cubas
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