quinta-feira, 19 de setembro de 2024

[Para Caresse Crosby]




1946
[Para Caresse Crosby]
9 de outubro de 1946

Cara sra. Crosby:

Eu estava trabalhando numa fábrica de porta-retratos e bebendo quando a senhora aceitou um dos meus contos.
Na carta a senhora disse que ele era “intrigante e profundo”.
Perdi meu emprego.
Meu pai me comprou um terno novo e me despachou para a Filadélfia.
Vivi de seguro social, tinha tempo demais para pensar e beber – e fiquei matutando sobre a Portfolio.
Escrevi diversos bilhetes contumeliosos, pesquisando palavras francesas na parte de trás do meu dicionário. Eu queria um exemplar da Portfolio com o meu conto. Fiquei triste que nem louco, tive impulso suicida, sonhos de vinho. Precisava de um ânimo espiritual, fiquei entusiástico nos meus pedidos, depois de vários intercâmbios, consegui (a Portfolio). Agora estou trabalhando numa fábrica de ferramentas – e bebendo.
Mas continuei matutando. Onde estão aqueles contos e esquetes que mandei para ela em março de 1946? Ela está zangada? Isso é a vingança dela? Será que ela queimou as minhas coisas? Ela transformou as páginas em barquinhos de papel para a banheira? Ou será que Henry Miller dorme com elas embaixo de seu colchão?
Não posso esperar mais.
Se não receber resposta, terei minha resposta.
Sinceramente,
Charles Bukowski

Charles Bukowski, em Escrever para não enlouquecer

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