1946
[Para
Caresse Crosby]
9
de outubro de 1946
Cara
sra. Crosby:
Eu
estava trabalhando numa fábrica de porta-retratos e bebendo quando a
senhora aceitou um dos meus contos.
Na
carta a senhora disse que ele era “intrigante e profundo”.
Perdi
meu emprego.
Meu
pai me comprou um terno novo e me despachou para a Filadélfia.
Vivi
de seguro social, tinha tempo demais para pensar e beber – e fiquei
matutando sobre a Portfolio.
Escrevi
diversos bilhetes contumeliosos, pesquisando palavras francesas na
parte de trás do meu dicionário. Eu queria um exemplar da Portfolio
com o meu conto. Fiquei triste que nem louco, tive impulso suicida,
sonhos de vinho. Precisava de um ânimo espiritual, fiquei
entusiástico nos meus pedidos, depois de vários intercâmbios,
consegui (a Portfolio). Agora estou trabalhando numa fábrica de
ferramentas – e bebendo.
Mas
continuei matutando. Onde estão aqueles contos e esquetes que mandei
para ela em março de 1946? Ela está zangada? Isso é a vingança
dela? Será que ela queimou as minhas coisas? Ela transformou as
páginas em barquinhos de papel para a banheira? Ou será que Henry
Miller dorme com elas embaixo de seu colchão?
Não
posso esperar mais.
Se
não receber resposta, terei minha resposta.
Sinceramente,
Charles
Bukowski
Charles Bukowski, em Escrever para não enlouquecer
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