Encomendaram-me
os editores uma “suma” de minha poesia, o que me enche de
perplexidade. Pois não foi aereamente e sim muito de propósito que
dei a um dos meus livros (que por sinal é o predileto de Manuel
Bandeira, Augusto Meyer e Carlos Drummond) o título de O aprendiz
de feiticeiro, tirado de uma lenda alemã. Esse incauto aprendiz,
na ausência do seu Mestre, pôs-se a lidar com forças
desconhecidas, e o que aconteceu foi uma incontrolável multiplicação
de vassouras, no meu caso uma multiplicação de poemas.
Saberá
mesmo um poeta em que consiste essa espécie de força oculta que o
faz poetar? Ele não tem culpa de ser poeta; portanto, não tem do
que se desculpar ou explicar.
Se
eu conheço algum segredo é o da sinceridade, não escrevo uma
vírgula que não seja confessional. Esse desejo insopitável de
expressar o que tem dentro de si é o mesmo que leva o crente ao
confessionário e o incréu ao divã do analista. O poeta prescinde
de ambas as coisas, e os que não são poetas, mas gostam de poesia,
desafogam a si mesmos através dos poemas que leem: porque na verdade
vos digo que não é o leitor que descobre o seu poeta, mas o poeta
que descobre o seu leitor.
Mário Quintana, em Porta giratória
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