Beatriz
Pedro
de Alvarado tinha casado com Francisca, mas Francisca caiu fulminada
pela água de flor de laranjeira que bebeu no caminho a Veracruz.
Então, casou com Beatriz, a irmã de Francisca.
Beatriz
estava esperando por ele na Guatemala quando soube, há dois meses,
que era viúva. Cobriu sua casa de negro por dentro e por fora e
pregou portas e janelas para fartar-se de chorar sem que ninguém
visse.
Chorou
olhando no espelho seu corpo nu, que tinha ficado seco de tanto
esperar e já não tinha nada para esperar, corpo que não cantava,
boca que só era capaz de dizer:
– Estás
aí?
Chorou
por esta casa que odeia e por esta terra que não é a sua e pelos
anos gastos entre esta casa e a igreja, da missa à mesa e do batismo
ao enterro, rodeada de soldados bêbados e de servas indígenas que
lhe provocam asco. Chorou pela comida que lhe faz mal e por aquele
que não vinha nunca, porque sempre havia alguma guerra para guerrear
ou terra para conquistar. Chorou por tudo que tinha chorado em sua
cama sem ninguém, quando dava um salto cada vez que latia um cão ou
cantava um galo e sozinha aprendia a ler a escuridão e escutar o
silêncio e a desenhar no ar. Chorou e chorou, partida por dentro.
Quando
por fim saiu do claustro, anunciou:
– Eu
sou a governadora da Guatemala.
Pouco
pôde governar.
O
vulcão está vomitando uma catarata de água e pedras que afoga a
cidade e mata tudo o que toca. O dilúvio vai avançando até a casa
de Beatriz, enquanto ela corre ao oratório, sobe no altar e se
abraça à Virgem. Suas onze criadas se abraçam às suas pernas e se
abraçam entre si, e Beatriz grita:
– Estás
aí?
A
tromba arrasa a cidade que Alvarado fundou, e enquanto o rugido
cresce Beatriz continua gritando:
– Estás
aí?
Eduardo Galeano, em Os Nascimentos
Nenhum comentário:
Postar um comentário