Duas Taitianas com Flores de Manga (s.d.), de Paul Gauguin
Outro
dia, ou melhor, outra noite, estava eu sentado na minha sala diante
de uma bela reprodução de Gauguin, comprada aqui em Montevidéu. A
reprodução fica sobre a lareira, no centro da sala, e representa
duas lindas vahinés taitianas, com os seus pareos coloridos, posando
para o dramático pintor, contra um fundo verde-amarelo de vegetação.
A moça da esquerda (vista pelo observador) traz nas mãos uma
cestinha de palha cheia de flores de um laranja-avermelhado, sobre a
qual parecem repousar também seus esplêndidos seios nus. Mira ela o
pintor com um ar de um tal mistério (ou será de uma misteriosa
malícia?) que dá para a gente ficar pensando... À direita do
quadro, sua jovem companheira, também olhando de meio-perfil para o
pintor, parece ter acabado de segredar-lhe alguma coisa.
Que
estariam elas dizendo? Olhei-as bem, em sua curiosa postura, e ao fim
de dez minutos, não tive nenhuma dúvida. A vahiné da direita
segredara à sua amiga:
– Ele
é divino, você não acha?
– Ora
se acho!
– Você
já...
– Ainda
não. Mas vou passar ele na cara hoje mesmo, ah, isso eu vou!
– Depois
você deixa eu dar uma voltinha?
– Psiu...
Cuidado que ele está olhando para cá...
– Ah
deixa...
E
ninguém precisou torcer o braço de Gauguin para ele ter mais uma
adorável noite taitiana…
Vinicius de Moraes, em Para viver um grande amor
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