De
tarde, fui ao cinema como sempre. Depois, em casa, contei o filme
rapidamente e sem nenhum entusiasmo. Disse que estava com dor de
cabeça. Ainda bem que havia quase só crianças, e as reclamações
foram poucas. Depois levei meu irmão mais velho para o pátio e,
sentados num dormente, contei o que tinha acontecido.
Para
minha própria surpresa, contei sem chorar. Estava embargada de uma
rara serenidade que me mantinha flutuando no ar. Ele me ouviu o tempo
todo em silêncio.
Não
pronunciou uma única palavra.
Quase
não pestanejou.
No
final – presa de um vago sentimento de culpa – fiquei com a
sensação de que não devia ter contado nada.
Hernán Rivera Letelier, em A Contadora de Filmes
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