sexta-feira, 26 de julho de 2024

voando pelo espaço



na época do ensino médio eu
estava saindo de uma
fase afrescalhada
e me desenvolvendo em
outra
direção.

dava para sentir o negócio
acontecendo.
eu não tinha controle
sobre ele.

eu começava a
caminhar diferente
falar
diferente.

em algum lugar dentro
de mim
uma estranha
confiança
se erguia.

as outras pessoas apenas não
pareciam
valer muita coisa
para mim.

eu circulava
com esse
leve ar de desprezo
no rosto…

um dia na aula de educação
física
o treinador pôs
os rapazes
a fazer
saltos em
distância.

as distâncias do
ssaltos
eram
medidas e
registradas.

o treinador se voltou
para mim:
vamos lá, Chinaski...”

caralho, não estou
a fim.”

o que há de errado?”
estou de
ressaca.”

não me venha com
essa!
comece a se mexer e
salte!
Estou
mandando!”

porra”, eu disse.

tomei distância,
comecei a correr,
cheguei à linha
e decolei

quando ganhei
altura
decidi
ficar por
ali
apenas
para não
perder a
viagem.

Então
aterrissei e
toquei a
serragem.

Estenderam
a fita
métrica.

não posso acreditar
nisso!”, disse o
treinador.
Chinaski,
você já saltou
antes?”

não.”
você ficou a poucos
centímetros
do recorde da
escola!”

sério? você se importa
se eu for pro chuveiro agora?”

claro, vá
em frente.”

me afastei
devagar,
como se tivesse
coisas mais
importantes
em mente.
dava para sentira turma inteira
e o treinador
olhando para mim.

Então
parei
mexi nas partes
e enfiei
a mão
no rabo e
cocei.

depois disso,
desapareci em direção
ao chuveiro
sentindo a
surpresa
e a confusão
às minhas
costas.

Charles Bukowski, em Miscelânea septuagenária: contos & poemas

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