quarta-feira, 17 de julho de 2024

Os Nascimentos | 1538 – Vulcão Masaya

Vulcano, deus do dinheiro

Da boca do vulcão Masaya saía, em outros tempos, uma velha despida, sábia de muitos segredos, que dava bons conselhos sobre o milho e a guerra. Desde que chegaram os cristãos, dizem os índios, a velha se nega a sair do monte que arde.
Muitos cristãos acreditam que o Masaya é uma boca do inferno, e que as chamas e as fumaças fogosas anunciam castigos eternos. Outros asseguram que são fervores de ouro e prata os que se erguem até as nuvens nessa fumaceira incandescente, que se vê a cinquenta léguas. Os metais preciosos se derretem e se purificam, revolvendo-se no ventre do monte. Quanto mais fogo arde, mais puros ficam.
Durante um ano preparou-se a expedição. O padre Blas de Castillo se levanta cedinho e dá a confissão a Pedro Ruiz, Benito Dávila e Juan Sánchez. Os quatro pedem perdão com lágrimas nos olhos e começam a caminhada ao raiar o dia.
O sacerdote é o primeiro a descer. Se mete em um cesto, com um capacete na cabeça, a estola no peito e uma cruz na mão, e chega à vasta esplanada que rodeia a boca de fogo.
Não se chama inferno, e sim paraíso! – proclama, negro de cinzas, enquanto crava a cruz entre as pedras. Em seguida descem seus companheiros. Lá de cima, os índios enviam a roldana, as correntes, as caldeiras, as vigas, os pernos...
Mergulham na caldeira de ferro. Das profundidades não chega ouro nem prata, e sim escória de enxofre. Quando metem mais fundo o caldeirão, o vulcão o devora.

Eduardo Galeano, em Os Nascimentos

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