Vulcano,
deus do dinheiro
Da
boca do vulcão Masaya saía, em outros tempos, uma velha despida,
sábia de muitos segredos, que dava bons conselhos sobre o milho e a
guerra. Desde que chegaram os cristãos, dizem os índios, a velha se
nega a sair do monte que arde.
Muitos
cristãos acreditam que o Masaya é uma boca do inferno, e que as
chamas e as fumaças fogosas anunciam castigos eternos. Outros
asseguram que são fervores de ouro e prata os que se erguem até as
nuvens nessa fumaceira incandescente, que se vê a cinquenta léguas.
Os metais preciosos se derretem e se purificam, revolvendo-se no
ventre do monte. Quanto mais fogo arde, mais puros ficam.
Durante
um ano preparou-se a expedição. O padre Blas de Castillo se levanta
cedinho e dá a confissão a Pedro Ruiz, Benito Dávila e Juan
Sánchez. Os quatro pedem perdão com lágrimas nos olhos e começam
a caminhada ao raiar o dia.
O
sacerdote é o primeiro a descer. Se mete em um cesto, com um
capacete na cabeça, a estola no peito e uma cruz na mão, e chega à
vasta esplanada que rodeia a boca de fogo.
– Não
se chama inferno, e sim paraíso! – proclama, negro de cinzas,
enquanto crava a cruz entre as pedras. Em seguida descem seus
companheiros. Lá de cima, os índios enviam a roldana, as correntes,
as caldeiras, as vigas, os pernos...
Mergulham
na caldeira de ferro. Das profundidades não chega ouro nem prata, e
sim escória de enxofre. Quando metem mais fundo o caldeirão, o
vulcão o devora.
Eduardo Galeano, em Os Nascimentos
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