O
escritor Alberto Mussa, craque em sentenças lapidares (só perde no
quesito para Nelson Rodrigues), afirma que a história de uma cidade
pode ser conhecida a partir de seus crimes. Eu acrescentaria nesta
sentença os fantasmas. A história de uma cidade pode ser contada
perfeitamente a partir de seus fantasmas.
Por
aqui os mais velhos falavam do caso do “Diabo de Irajá”, uma
menina de Costa Barros que de tanto chamar o demônio acabou
consumida por um fogaréu saído de um buraco. Não sou do tempo do
“Diabo de Irajá”, mas os coroas garantem que a turma da região
tinha um medo danado de cruzar com a assombração da menina que o
cramulhão incendiou.
Os
fantasmas que assombraram a minha infância foram o Bebê-Diabo, a
Loira do Banheiro, que com algodões em sangue nas narinas agarrava
crianças em escolas, e o Homem do Saco, que sequestrava a molecada
na saída dos colégios. Tremia ao ouvir a história de Bárbara dos
Prazeres, a bruxa do Arco do Teles, que atacava crianças e
gargalhava às madrugadas. A Mulher de Branco, que pegava um táxi na
porta do cemitério, e o trem que saía de Santa Cruz levando mortos
até a Central do Brasil também faziam parte do meu inventário de
pavores.
Mais
velho, conheci a história do fantasma do Largo da Segunda-Feira, na
Tijuca. O sujeito, assassinado na região no século XVIII (e o largo
tem esse nome porque o crime aconteceu em uma segunda), assombrava
pessoas que faziam compras em um supermercado construído na região
do crime. Consta nas conversas de rua que o mercado resolveu o
problema de forma secreta, convocando um paranormal que, no
currículo, apresentava sucesso em despachar fantasmas que
assombravam um restaurante em Vaz Lobo e, segundo o próprio, tinha
um certificado de exorcista emitido pelo arcebispo.
Luiz Antonio Simas, em Crônicas exusíacas e estilhaços pelintras
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