segunda-feira, 22 de julho de 2024

Nossos fantasmas


O escritor Alberto Mussa, craque em sentenças lapidares (só perde no quesito para Nelson Rodrigues), afirma que a história de uma cidade pode ser conhecida a partir de seus crimes. Eu acrescentaria nesta sentença os fantasmas. A história de uma cidade pode ser contada perfeitamente a partir de seus fantasmas.
Por aqui os mais velhos falavam do caso do “Diabo de Irajá”, uma menina de Costa Barros que de tanto chamar o demônio acabou consumida por um fogaréu saído de um buraco. Não sou do tempo do “Diabo de Irajá”, mas os coroas garantem que a turma da região tinha um medo danado de cruzar com a assombração da menina que o cramulhão incendiou.
Os fantasmas que assombraram a minha infância foram o Bebê-Diabo, a Loira do Banheiro, que com algodões em sangue nas narinas agarrava crianças em escolas, e o Homem do Saco, que sequestrava a molecada na saída dos colégios. Tremia ao ouvir a história de Bárbara dos Prazeres, a bruxa do Arco do Teles, que atacava crianças e gargalhava às madrugadas. A Mulher de Branco, que pegava um táxi na porta do cemitério, e o trem que saía de Santa Cruz levando mortos até a Central do Brasil também faziam parte do meu inventário de pavores.
Mais velho, conheci a história do fantasma do Largo da Segunda-Feira, na Tijuca. O sujeito, assassinado na região no século XVIII (e o largo tem esse nome porque o crime aconteceu em uma segunda), assombrava pessoas que faziam compras em um supermercado construído na região do crime. Consta nas conversas de rua que o mercado resolveu o problema de forma secreta, convocando um paranormal que, no currículo, apresentava sucesso em despachar fantasmas que assombravam um restaurante em Vaz Lobo e, segundo o próprio, tinha um certificado de exorcista emitido pelo arcebispo.

Luiz Antonio Simas, em Crônicas exusíacas e estilhaços pelintras

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