sábado, 13 de julho de 2024

Nega Luzia

Há diversas polêmicas sobre o famoso grande incêndio de Roma, ocorrido em 64 d.C. O fogaréu devastou dois terços da cidade, destruiu prédios importantes e ainda tem origem controversa. A mais consistente atribui o sinistro a um acidente, provavelmente causado pelo hábito que alguns romanos tinham de acender lareiras para o aquecimento das casas e a preparação de refeições.
Outra versão atribui a Nero o início do incêndio. Nessa pegada, o imperador teria provocado o incêndio para construir, nas áreas devastadas pelo fogo, um complexo palaciano que tinha sido vetado pelo Senado. Nero ainda teria aproveitado para atribuir a culpa pelo fogaréu aos cristãos, ordenando inclemente perseguição aos devotos de Cristo.
No imaginário popular, sobrou para Nero mesmo, que ainda levou a fama de ter ficado tocando lira enquanto a cidade ardia.
Aqui no Brasil, a controvérsia sobre quem tacou fogo em Roma permanece. O espírito de Nero, que baixava no subúrbio carioca para promover curas, negava ter provocado o incêndio. No samba “Nega Luzia” (Wilson Batista e Jorge de Castro), a sentença é definitiva. Em síntese, a letra da música conta a história de Luzia, presa ao querer botar fogo no morro. Os moradores, entretanto, fazem uma vaquinha para pagar a fiança da nega e livrá-la da cana. A coitada, afinal, não teve culpa no cartório. O vilão da história é outro: “O silêncio foi quebrado/ por um grito de socorro/ a nega recebeu um Nero/ e queria botar fogo no morro.” E estamos conversados.

Luiz Antonio Simas, em Crônicas exusíacas e estilhaços pelintras

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