Para
que uma organização democrática exista é preciso que haja
equilíbrio de poder entre os seus membros. Uma organização
democrática entre lobos e cordeiros jamais poderia existir, ainda
que os cordeiros fossem em número maior que os lobos, sempre
ganhassem as votações e estivessem sempre com a razão. É hora de
recontar a fábula do lobo e do cordeiro, porque ela nos ajuda a
compreender o momento. “Estavam o lobo e o cordeiro a beber num
riachinho, quando o lobo assim falou ao cordeiro: ‘Por que sujas a
água que estou bebendo?’. Retrucou o cordeiro: ‘Como posso eu
sujar a água que o senhor está bebendo se sou eu que estou abaixo
na correnteza? A água passa primeiro pelo senhor e só depois chega
a mim...’. O lobo não se alterou com as evidências. ‘Sim, de
fato. Mas você sujou a minha água no ano passado’, disse o lobo.
Respondeu o cordeiro: ‘Isso não pode ser, senhor lobo, pois tenho
apenas seis meses. Não havia ainda nascido no ano passado’. O lobo
arreganhou os dentes e gritou: ‘Se não foi você foi o seu pai’.
E devorou o cordeiro...” Uma sociedade democrática entre os lobos
é possível porque existe equilíbrio de poder entre os lobos. Uma
sociedade democrática entre cordeiros é possível porque existe
equilíbrio de poder entre os cordeiros. Mas não é possível uma
sociedade democrática onde haja lobos e cordeiros. Os lobos sempre
devorarão os cordeiros…
Rubem Alves, em Ostra feliz não faz pérola
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