Falar
a partir de ninguém faz comunhão com as árvores
Faz
comunhão com as aves
Faz
comunhão com as chuvas
Falar
a partir de ninguém faz comunhão com os rios,
com
os ventos, com o sol, com os sapos.
Falar
a partir de ninguém
Faz
comunhão com borra
Faz
comunhão com os seres que incidem por andrajos.
Falar
a partir de ninguém
Ensina
a ver o sexo das nuvens
E
ensina o sentido sonoro das palavras.
Falar
a partir de ninguém
Faz
comunhão com o começo do verbo.
Manoel de Barros, em Ensaios fotográficos
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