Era
um quintal ensombrado, murado alto de pedras,
As
macieiras tinham maçãs temporãs, a casca vermelha
de
escuríssimo vinho, o gosto caprichado das coisas
fora
do seu tempo desejadas.
Ao
longo do muro eram talhas de barro.
Eu
comia maçãs, bebia a melhor água, sabendo
que
lá fora o mundo havia parado de calor.
Depois
encontrei meu pai, que me fez festa
e
não estava doente e nem tinha morrido, por isso ria,
os
lábios de novo e a cara circulados de sangue,
caçava
o que fazer pra gastar sua alegria:
onde
está meu formão, minha vara de pescar,
cadê
minha binga, meu vidro de café?
Eu
sempre sonho que uma coisa gera,
nunca
nada está morto.
O
que não parece vivo, aduba.
O
que parece estático, espera.
Adélia Prado, em Bagagem
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