Depois
dessas sessões os aplausos ficavam ressoando em mim a noite toda, a
ponto de eu não conseguir conciliar o sono. Em meus desvelos pensava
em minha mãe, e chorava em silêncio debaixo das cobertas. Quando
ela nos abandonou, do mesmo jeito que meu irmão começou a gaguejar
eu me cobri de piolhos brancos. As vizinhas diziam que esse tipo de
piolho aparecia quando a gente tinha alguma dor na alma. E como a dor
era pela minha mãe, comecei a comer os piolhos de amor por ela.
Tanto
assim eu amava minha mãe.
Tanto
assim eu sentia falta dela.
Como
ela se sentiria orgulhosa agora, eu dizia a mim mesma, se visse como
as pessoas me ouvem e me aplaudem!
Será
que a aplaudem tanto como a mim, depois de suas danças? Será que
ela mudou seu nome por outro, mais artístico? Será que continua
usando aqueles lenços de seda, tão bonitos? Sufocando-me debaixo
das cobertas, eu a imaginava dançando seminua, num palco enfeitado
com luzes coloridas que acendiam e apagavam. É que num daqueles dias
eu tinha ficado sabendo, por algumas mulheres na fila do pão, que
minha mãe havia ido embora para ser dançarina num teatro de
revista.
Diziam
que “a cabeça oca da Magnólia” tinha sido embromada pelo
diretor de uma companhia picaresca que passou pela Mina, e levou-a
para a capital com a promessa de transformá-la em vedete. O que não
entendi direito foi o que uma delas disse, piscando para as outras:
que vários viúvos tinham ficado chorando a sua fuga, e que o mais
triste de todos era o senhor administrador.
Minha
mãe tinha vinte e seis anos quando foi embora. E apesar de ter tido
cinco filhos em cinco anos seguidos (o primeiro ela teve aos catorze)
conservava um porte invejável. Disso eu me lembro perfeitamente
porque várias vezes, quando estávamos as duas sozinhas em casa, eu
a vi dançar com roupa íntima na frente do espelho.
No
entanto, seu rosto ia se desvanecendo em mim, ia se apagando como o
de uma atriz que tinha parado de fazer filmes há muito tempo. Outra
coisa que me acontecia era que, de tanto ver e contar filmes, muitas
vezes eu os embaralhava com a realidade. E me custava lembrar se
determinada coisa eu tinha vivido ou visto projetada na tela. Ou se
havia sonhado. Porque acontecia que até meus próprios sonhos eu
confundia depois com cenas de filmes.
A
mesma coisa acontecia com as lembranças mais lindas da minha mãe.
As imagens dos poucos momentos felizes vividos com ela iam se
desvanecendo na minha memória, inapelavelmente, como cenas de um
filme velho.
Um
filme em branco e preto.
E
mudo.
Hernán Rivera Letelier, em A Contadora de Filmes
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