O
resgate
Para
comprar a vida de Atahualpa, acodem a prata e o ouro. Formigueiam
pelos quatro caminhos do império as longas fileiras de Ihamas e a
multidão de costas carregadas. O mais esplêndido tesouro vem de
Cuzco: um jardim inteiro, árvores e flores de ouro maciço e
pedrarias, em tamanho natural, e pássaros e animais de pura prata e
turquesa e lápis-lazúli.
O
forno recebe deuses e adornos e vomita barras de ouro e de prata.
Chefes
e soldados exigem aos gritos a partilha. Faz seis anos que não
percebem nada.
De
cada cinco lingotes, Francisco Pizarro separa um para o rei. Depois,
faz o sinal da cruz. Pede o auxílio de Deus, que tudo sabe, para
guardar justiça; e pede o auxílio de Hernando de Soto, que sabe
ler, para vigiar o escrivão.
Adjudica
uma parte à Igreja e outra ao vigário do Exército. Recompensa
longamente seus irmãos e os outros capitães. Cada soldado raso
ganha mais do que o príncipe Felipe recebe em um ano e Pizarro se
transforma no homem mais rico do mundo. O caçador de Atahualpa
entrega a si mesmo o dobro do que em um ano gasta a corte de Carlos V
com seus seiscentos criados – sem contar a liteira do Inca, oitenta
e três quilos de ouro puro, que é seu troféu de general.
Eduardo Galeano, in Os Nascimentos
Nenhum comentário:
Postar um comentário