À Mahmoud Darwish
Quero,
antes de tudo, que registrem-me
EM
LETRAS GARRAFAIS:
não
sou um número, tenho um nome.
Minha
identidade não é documento.
As
árvores me conhecem desde a tenra infância.
Não
sou bárbaro.
Não
matei, não roubei, não oprimi.
Fugi
de uma guerra que não era minha.
O
terror que te preocupas,
tirou
de mim, minha família.
A
terra da qual migrei está longe,
mas
ainda vive dentro de mim.
Meu
endereço?
Todos
os corações que ficaram
e
os que se perderam.
Minha
pátria, agora,
é
só o que posso carregar
no
peito e nas costas.
Meu
coração está aberto,
mas
o porto está fechado para nós.
Tem
piedade, ó Senhor dos Cáucasos.
O
oriente é invenção do ocidente.
Nossa
história de privação e dispersão
já
atravessa os séculos.
Não
pregue na cruz nossa liberdade
de
viver e trabalhar.
Quero
abraçar este cinturão de terra,
como
quem encontra a amada,
como
se fosse minha
esta
terra que me foi negada.
Não
quero, nem quis ser exilado.
Perdoem-me
se minhas palavras são amargas
o
estampido de uma guerra ensurdecente
ainda
explode minha voz
em
estilhaços.
Diego Ruas, in A fome é a mãe de todas as bombas
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