As
101 melhores, ou mais bonitas, ou mais importantes canções
brasileiras não existem.
Podem-se
fazer várias listas de 101 canções, umas tão boas quanto outras,
por gênero, por época, por importância histórica ou sucesso
popular, além da excelência melódica, harmônica, rítmica e
poética. Poderiam ser até 1.001, tal a criatividade e a diversidade
dos compositores brasileiros nos últimos 101 anos.
Uma
das grandes qualidades da música brasileira é a variedade
inigualável de gêneros, estilos, ritmos e misturas musicais, de
Belém a Porto Alegre, em épocas distintas e sob múltiplas
influências, que representam nossa diversidade étnica e cultural.
Entre as inúmeras canções lindas, alegres, dramáticas,
românticas, divertidas, trágicas, políticas, sociais, dos mais
variados ritmos e estilos, que se tornaram populares e marcaram seu
tempo, algumas tocaram especialmente o Brasil, nos nossos melhores e
piores momentos, e se tornaram trilha sonora de nossa história
pessoal e coletiva.
Mas
listas de músicas que marcam a vida de cada um são como impressões
digitais: não há duas iguais. Das que mais tocaram o coração do
Brasil, estas 101 estão entre as mais bonitas, populares,
importantes e originais. Mas muitas outras, que não cabem em um só
livro, também formam uma riquíssima coleção de canções de
vários estilos e gerações.
Bastaria
a obra musical de Tom Jobim, de Dorival Caymmi, de Ary Barroso, de
Noel Rosa ou de Chico Buarque para compor uma lista inestimável de
mais bonitas, mais importantes, mais originais. Porém há muitas
outras, além das já citadas nas informações sobre a obra dos
compositores das 101: a maior qualidade da música brasileira é sua
diversidade.
Grandes
músicas que marcaram o coração do Brasil, como “É o amor”, de
Zezé di Camargo, megassucesso sertanejo nos anos 1990 e depois
gravada por Maria Bethânia; sucessos eternos da Jovem Guarda, como
“Vem quente que eu estou fervendo” e “O bom”, de Eduardo
Araújo e Carlos Imperial, e “Negro gato”, de Getúlio Côrtes;
belas canções do estilo romântico popular que foi chamado de
brega, como “Sonhos” e “Sozinho”, de Peninha, e “Dia de
domingo” e “Me dê motivo”, de Sullivan e Massadas, também
fizeram história.
Entre
tantas tão boas, não faltam grandes clássicos do samba-canção,
como “Molambo” (Jaime Florence e Augusto Mesquita), “Saia do
caminho” (Custódio Mesquita e Evaldo Rui), “Chuvas de verão”
(Fernando Lobo), “Canção de amor” (Chocolate e Elano de Paula),
“Chove lá fora” (Tito Madi), e os mais recentes “Beijo
partido” (Toninho Horta), “Jura secreta” (Suely Costa e Abel
Silva) e “Simples carinho” (João Donato e Abel Silva).
O
mundo do samba também contribui com incontáveis clássicos. Entre
eles, destacam-se “Jura” e “Gosto que me enrosco” (Sinhô),
“Agora é cinza” (Bide e Marçal), “Antonico” e “Contrastes”
(Ismael Silva), “Mulata assanhada” e “Na cadência do samba”
(Ataulfo Alves), “Falsa baiana” e “Escurinho” (Geraldo
Pereira), “Segredo” e “Ave Maria no morro” (Herivelto
Martins), “De conversa em conversa” (Lúcio Alves e Haroldo
Barbosa) e “Pra que discutir com madame?” (Haroldo Barbosa e
Janet Almeida), “Camisa listrada” (Assis Valente), “Canta
Brasil” (Alcyr Pires Vermelho e David Nasser), “Adeus América”
(Geraldo Jacques e Haroldo Barbosa), “A fonte secou” (Monsueto
Menezes, Raul Moreno e Marcléo), “Volta por cima” (Paulo
Vanzolini), “Senhora liberdade” e “Coisa da antiga” (Wilson
Moreira e Nei Lopes), “Vou festejar” (Jorge Aragão, Dida e
Neoci) e “O samba é meu dom” (Wilson das Neves e Paulo César
Pinheiro).
As
marchinhas de Carnaval são um capítulo especial da música
brasileira, fazendo crônica social e crítica de costumes com
alegria e humor em clássicos como “Alá-lá-ô” (Haroldo Lobo e
Antônio Nássara), “Yes, nós temos bananas” e “Jardineira”
(João de Barro), “Sassaricando” (Jota Júnior, Luís Antônio e
Oldemar Magalhães), “Balzaquiana” (Nássara e Wilson Batista),
“Marcha do gago” (Armando Cavalcanti e Klécius Caldas), até
“Folia no matagal” (Eduardo Dussek e Luis Carlos Góes).
São
muitas as canções imortais da bossa nova, não só de Tom Jobim,
mas de Carlos Lyra (“Você e eu”, “Sabe você” e “Coisa
mais linda”, com Vinicius de Morais, e “Se é tarde me perdoa”,
“Saudade fez um samba” e “Lobo bobo”, com Bôscoli), de
Roberto Menescal (“Nós e o mar”, “Ah, se eu pudesse” e
“Rio”, com Ronaldo Bôscoli, e “Bye Bye Brasil”, com Chico
Buarque), de Luiz Bonfá (“Manhã de Carnaval”, com Antônio
Maria), do grande estilista João Donato (“Naquela estação”,
com Caetano Veloso e Ronaldo Bastos, “A Paz”, com Gilberto Gil,
“Brisa do mar”, com Chico Buarque).
A
tradição romântica brasileira emociona e encanta com valsas e
modinhas, desde “Linda Flor” (Henrique Vogeler, Luiz Peixoto
Marques Porto) e “Casinha pequenina” (autor desconhecido, 1906),
a clássicos de Custódio Mesquita, como “Nada além” (com Mário
Lago) e “Mulher” (com Sady Cabral). E tantas outras, como “Boa
noite amor” (José Maria de Abreu e Francisco Matoso), “Lábios
que beijei” (J Cascata e Leonel Azevedo), “Curare” (Bororó),
“Eu sonhei que tu estavas tão linda” (Lamartine Babo), “Nova
ilusão” (José Menezes e Luiz Bittencourt), “Vida de bailarina”
(Chocolate e Américo Seixas), “A saudade mata a gente” (João de
Barro e Antônio Almeida) e “Começar de novo” (Ivan Lins e Vitor
Martins).
A
obra de Roberto e Erasmo Carlos, os maiores hitmakers da nossa
história, em sua diversidade de temas e estilos, constitui-se, por
si só, em uma trilha sonora dos sentimentos brasileiros de várias
gerações, com canções de alta qualidade como “Além do
horizonte”, “Do fundo do meu coração”, “Café da manhã”,
“Cavalgada”, “Jesus Cristo”, “Sua estupidez”, “Amada
amante”, “O portão”, “As curvas da estrada de Santos”, “Se
você pensa”, “Sentado à beira do caminho”... São tantas
emoções, há tanto tempo.
Além
dos clássicos já listados, o rock brasileiro também produziu
grandes músicas que marcaram época com humor, alegria e
irreverência, desde “Ando meio desligado”, dos Mutantes, e
“Metamorfose ambulante”, de Raul Seixas, aos seminais Blitz
(“Você não soube me amar”, de Evandro Mesquita, Ricardo
Barreto, Guto Barros e Zeca Mendigo) e Gang 90 e as Absurdettes, de
Júlio Barroso (“Perdidos na selva”, com Guilherme Arantes),
“Corações psicodélicos” (com Lobão) e “Nosso louco amor”
(com Herman Torres). Destacam-se ainda o RPM de Paulo Ricardo e Luiz
Schiavon (“Louras geladas”); Lobão com “Vida bandida” e
“Chorando no Campo” (com Bernardo Vilhena), “Décadence avec
élégance” e “Nostalgia da modernidade”, uma fabulosa mistura
de samba e rock pesado; Léo Jaime (“Rock da cachorra”), Ritchie
e Bernardo Vilhena (“Menina veneno”), e Cazuza, que começou no
rock e fez o que quis do jeito que quis (“O tempo não para”, com
Arnaldo Brandão, “Faz parte do meu show”, com Renato Ladeira,
“Maior abandonado” e “Blues da piedade”, com Roberto Frejat,
e “Eu preciso dizer que te amo”, com Dé Palmeira e Bebel
Gilberto).
A
moderna canção nordestina produziu pérolas como “À primeira
vista”, de Chico César, “É d’Oxum”, de Gerônimo,
“Anunciação” e “Vou danado pra Catende”, de Alceu Valença,
e “Canção da despedida”, de Geraldo Vandré e Geraldo Azevedo.
Acrescentam-se ainda clássicos na voz de Dominguinhos, como “De
volta pro aconchego” (com Nando Cordel) e “Só quero um xodó”
(com Anastácia), até “Paciência” (Lenine) e “Esperando na
janela” (Targino Gondim).
E
frevos que incendiaram as ruas: de “Evocação”, de Nelson
Ferreira, a “Frevo mulher”, de Zé Ramalho, “Festa do
interior”, de Moraes Moreira e Abel Silva, e “Banho de cheiro”,
de Carlos Fernando.
Das
modinhas e choros ao funk e o tecnobrega, a música brasileira
acompanha os movimentos do país com canções que contam a história
de um tempo e dos sentimentos dos brasileiros com qualidade,
quantidade e diversidade.
Nelson Motta, in 101 canções que tocaram o Brasil
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