Não,
senhor, agora quer você queira, quer não, há de casar, disse-me
Sabina. Que belo futuro! Um solteirão sem filhos.
Sem
filhos! Eis o dardo secreto. A ideia de ter filhos deu-me um
sobressalto; percorreu-me outra vez o fluido misterioso. Sim, cumpria
ser pai. A vida celibata podia ter certas vantagens próprias, mas
seriam tênues, e compradas a troco da solidão. Sem filhos! Não;
impossível. Dispus-me a aceitar tudo, ainda mesmo a aliança do
Damasceno. Sem filhos! Como já então depositasse grande confiança
no Quincas Borba, fui ter com ele e expus-lhe os movimentos internos
da minha paternidade. O filósofo ouviu-me com alvoroço; declarou-me
que Humanitas se agitava em meu seio; animou-me ao casamento;
ponderou que eram mais alguns convivas que batiam à porta, etc.
Compelle intrare, como dizia jesus. E não me deixou sem
provar que o apólogo evangélico não era mais do que um prenúncio
do Humanitismo, erradamente interpretado pelos padres.
Machado de Assis, in Memórias Póstumas de Brás Cubas
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