Diego
de Ordaz
O
vento anda negando-se, e as chalupas rebocam a nau rio acima. O sol
bate nas águas.
No
escudo de armas do capitão brilha o cone do vulcão Popocatépetl,
porque ele foi o primeiro dos espanhóis que pisou a neve da cimeira.
Naquele dia ele chegou tão alto que através dos torvelinhos de
cinzas via as costas das águias e via a cidade de Tenochtitlán
tremendo na lagoa; mas teve de escapar correndo porque o vulcão
tronou de ira e vomitou uma chuva de fogo e pedras e fumaça negra.
Agora
Diego de Ordaz, feito um mingau, se pergunta se conduzirá este rio
Orinoco ao lugar onde o ouro o espera. Os índios das aldeias vão
mostrando o ouro cada vez mais longe, enquanto o capitão espanta
mosquitos e avança, gemendo, o casco mal-armado da nau. Os macacos
protestam e os papagaios, invisíveis, gritam foradaqui,
foradaqui, e muitos pássaros sem nome revoam entre as margens
cantando nãosereiteu, nãosereiteu, nãosereiteu.
Eduardo Galeano, in Os Nascimentos
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