sexta-feira, 1 de março de 2024

Os Nascimentos | 1531 – Rio Orinoco

Diego de Ordaz

O vento anda negando-se, e as chalupas rebocam a nau rio acima. O sol bate nas águas.
No escudo de armas do capitão brilha o cone do vulcão Popocatépetl, porque ele foi o primeiro dos espanhóis que pisou a neve da cimeira. Naquele dia ele chegou tão alto que através dos torvelinhos de cinzas via as costas das águias e via a cidade de Tenochtitlán tremendo na lagoa; mas teve de escapar correndo porque o vulcão tronou de ira e vomitou uma chuva de fogo e pedras e fumaça negra.
Agora Diego de Ordaz, feito um mingau, se pergunta se conduzirá este rio Orinoco ao lugar onde o ouro o espera. Os índios das aldeias vão mostrando o ouro cada vez mais longe, enquanto o capitão espanta mosquitos e avança, gemendo, o casco mal-armado da nau. Os macacos protestam e os papagaios, invisíveis, gritam foradaqui, foradaqui, e muitos pássaros sem nome revoam entre as margens cantando nãosereiteu, nãosereiteu, nãosereiteu.

Eduardo Galeano, in Os Nascimentos

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