terça-feira, 5 de março de 2024

Moro a setenta quilômetros do mar

moro a duas horas e meia do mar
moro a dois ônibus e
vinte e quatro estações de trem e
onze estações de metrô
do mar
moro a tanta preguiça de ir
até o mar
mas todo dia piso
nos dois montes de areia
da calçada do vizinho
e lembro que
só esquece o mar
quem mora perto do mar
eu não esqueço que
moro onde não escolhi
moro onde posso morar e
às vezes é madrugada e fica silêncio
às vezes é madrugada e durmo
ouvindo o barulho da água
do valão de frente a minha casa
e acordo com a boca salgada
nos olhos dois montes de areia.

Bruna Mitrano, in Ninguém quis ver: poemas

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