1
Então
desenvolvi um novo sistema no hipódromo. Tirei 3 mil dólares em um
mês e meio, indo apenas duas ou três vezes por semana às corridas.
Comecei a sonhar. Imaginei uma casinha na praia, perto do mar. Me vi
usando roupas finas, sereno, levantando pela manhã, entrando no meu
carro importado, fazendo, devagar e relaxado, o caminho até o
hipódromo. Me vi em jantares com bons filés, prazerosos, precedidos
e acompanhados por boas bebidas em copos coloridos. Gorjeta alta. O
charuto. E mulheres à vontade. É fácil mergulhar nesse tipo de
pensamento quando os caras lhe estendem grandes notas na janela do
caixa. Quando numa corrida de 1.200 metros, ou seja, em um minuto e
nove segundos, você tira o salário de um mês.
Assim,
fui ao escritório do superintendente. Lá estava ele, atrás de sua
mesa. Eu tinha um charuto na boca e uísque em meu hálito. Dava para
sentir a palavra grana ao me ver. Eu parecia feito de grana.
— Sr.
Winters — eu disse —, os Correios têm me tratado bem. Mas tenho
alguns negócios no mundo real que simplesmente precisam de meus
cuidados. Se não puder me dar uma licença, vou ter que me demitir.
— Já
não lhe dei uma licença no começo do ano, Chinaski?
— Não,
sr. Winters, o senhor ignorou meu pedido de licença. Dessa vez não
vai poder ignorar. Ou então me demito.
— Tudo
bem, preencha o formulário e eu assinarei. Mas só posso lhe dar
noventa dias de afastamento.
— Aceito
— eu disse, soltando uma longa baforada do meu charuto de magnata.
2
O
hipódromo tinha mudado para um lugar que ficava uns 150 quilômetros
costa abaixo. Continuava pagando o aluguel de meu apartamento na
cidade, entrava no carro e tocava para a costa. Uma ou duas vezes por
semana eu dava um pulo no apartamento, conferia a correspondência,
às vezes passava a noite, e depois dirigia de volta.
Era
uma boa vida, e eu tinha começado ganhando. Depois do último páreo
da noite, eu tomava uns dois drinques leves no bar, dando boas
gorjetas à garçonete. Parecia uma nova vida. Não tinha como dar
errado.
Certa
noite, nem cheguei sequer a assistir ao último páreo. Fui para o
bar. Cinquenta dólares no vencedor era a minha aposta padrão.
Quando você aposta cinquenta dólares por bom um tempo, é como se
fosse apenas cinco ou dez dólares.
— Scotch
com água — disse ao atendente. — Acho que vou acompanhar esta
última pelo alto-falante.
— Em
quem apostou?
— Blue
Stocking — eu lhe disse. — Cinquenta dólares na cabeça.
— Ele
é muito pesado.
— Você
está brincando? Um bom cavalo aguenta sessenta quilos numa boa sob
um seguro de 6 mil dólares. O que significa que, de acordo com as
condições, esse cavalo faz coisas que nenhum outro cavalo na pista
faz.
Claro,
não era essa a razão pela qual eu tinha apostado em Blue Stocking.
Eu sempre dava informações trocadas. Não queria nenhum outro
comigo no placar.
Naquela
época, não havia circuito fechado de tevê. Você ficava apenas
ouvindo pelo alto-falante. Eu tinha 380 dólares de vantagem. Uma
perda na última corrida ainda me daria um lucro de 330 dólares. Um
bom dia de trabalho.
Ouvíamos.
O locutor mencionava todos os cavalos do páreo, exceto Blue
Stocking.
Meu
cavalo deve ter desabado, pensei.
Estavam
na reta de chegada, vindo já em direção à chegada. Aquela pista
era conhecida por sua reta final muito curta.
Então,
um pouco antes do fim, o locutor berrou:
— E
AÍ VEM BLUE STOCKING POR FORA! BLUE STOCKING VEM SE APROXIMANDO COM
TUDO... BLUE STOCKING!
— Com
licença — eu disse ao atendente. — Voltarei num instante.
Prepare um scotch duplo com água.
— Sim,
senhor! — ele disse.
Fui
até os fundos, onde estava o placar. Blue Stocking cotava 9/2. Bem,
não era 8 ou 10 por 1. Mas você apostava no vencedor e não na
cotação. Peguei os 250 dólares de lucro e mais uns trocados.
Voltei ao bar.
— Em
quem está apostando amanhã, senhor? — perguntou-me o cara do bar.
— Amanhã
ninguém sabe — eu lhe disse.
Terminei
o meu drinque, dei-lhe um dólar de gorjeta e dei o fora.
Charles Bukowski, in Cartas na Rua
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