domingo, 31 de março de 2024

Cartas na Rua | Quatro


1

Então desenvolvi um novo sistema no hipódromo. Tirei 3 mil dólares em um mês e meio, indo apenas duas ou três vezes por semana às corridas. Comecei a sonhar. Imaginei uma casinha na praia, perto do mar. Me vi usando roupas finas, sereno, levantando pela manhã, entrando no meu carro importado, fazendo, devagar e relaxado, o caminho até o hipódromo. Me vi em jantares com bons filés, prazerosos, precedidos e acompanhados por boas bebidas em copos coloridos. Gorjeta alta. O charuto. E mulheres à vontade. É fácil mergulhar nesse tipo de pensamento quando os caras lhe estendem grandes notas na janela do caixa. Quando numa corrida de 1.200 metros, ou seja, em um minuto e nove segundos, você tira o salário de um mês.
Assim, fui ao escritório do superintendente. Lá estava ele, atrás de sua mesa. Eu tinha um charuto na boca e uísque em meu hálito. Dava para sentir a palavra grana ao me ver. Eu parecia feito de grana.
Sr. Winters — eu disse —, os Correios têm me tratado bem. Mas tenho alguns negócios no mundo real que simplesmente precisam de meus cuidados. Se não puder me dar uma licença, vou ter que me demitir.
Já não lhe dei uma licença no começo do ano, Chinaski?
Não, sr. Winters, o senhor ignorou meu pedido de licença. Dessa vez não vai poder ignorar. Ou então me demito.
Tudo bem, preencha o formulário e eu assinarei. Mas só posso lhe dar noventa dias de afastamento.
Aceito — eu disse, soltando uma longa baforada do meu charuto de magnata.

2

O hipódromo tinha mudado para um lugar que ficava uns 150 quilômetros costa abaixo. Continuava pagando o aluguel de meu apartamento na cidade, entrava no carro e tocava para a costa. Uma ou duas vezes por semana eu dava um pulo no apartamento, conferia a correspondência, às vezes passava a noite, e depois dirigia de volta.
Era uma boa vida, e eu tinha começado ganhando. Depois do último páreo da noite, eu tomava uns dois drinques leves no bar, dando boas gorjetas à garçonete. Parecia uma nova vida. Não tinha como dar errado.
Certa noite, nem cheguei sequer a assistir ao último páreo. Fui para o bar. Cinquenta dólares no vencedor era a minha aposta padrão. Quando você aposta cinquenta dólares por bom um tempo, é como se fosse apenas cinco ou dez dólares.
Scotch com água — disse ao atendente. — Acho que vou acompanhar esta última pelo alto-falante.
Em quem apostou?
Blue Stocking — eu lhe disse. — Cinquenta dólares na cabeça.
Ele é muito pesado.
Você está brincando? Um bom cavalo aguenta sessenta quilos numa boa sob um seguro de 6 mil dólares. O que significa que, de acordo com as condições, esse cavalo faz coisas que nenhum outro cavalo na pista faz.
Claro, não era essa a razão pela qual eu tinha apostado em Blue Stocking. Eu sempre dava informações trocadas. Não queria nenhum outro comigo no placar.
Naquela época, não havia circuito fechado de tevê. Você ficava apenas ouvindo pelo alto-falante. Eu tinha 380 dólares de vantagem. Uma perda na última corrida ainda me daria um lucro de 330 dólares. Um bom dia de trabalho.
Ouvíamos. O locutor mencionava todos os cavalos do páreo, exceto Blue Stocking.
Meu cavalo deve ter desabado, pensei.
Estavam na reta de chegada, vindo já em direção à chegada. Aquela pista era conhecida por sua reta final muito curta.
Então, um pouco antes do fim, o locutor berrou:
E AÍ VEM BLUE STOCKING POR FORA! BLUE STOCKING VEM SE APROXIMANDO COM TUDO... BLUE STOCKING!
Com licença — eu disse ao atendente. — Voltarei num instante. Prepare um scotch duplo com água.
Sim, senhor! — ele disse.
Fui até os fundos, onde estava o placar. Blue Stocking cotava 9/2. Bem, não era 8 ou 10 por 1. Mas você apostava no vencedor e não na cotação. Peguei os 250 dólares de lucro e mais uns trocados. Voltei ao bar.
Em quem está apostando amanhã, senhor? — perguntou-me o cara do bar.
Amanhã ninguém sabe — eu lhe disse.
Terminei o meu drinque, dei-lhe um dólar de gorjeta e dei o fora.

Charles Bukowski, in Cartas na Rua

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