segunda-feira, 18 de março de 2024

Can’t Buy Me Love, de Paul McCartney e John Lennon


Can’t Buy Me Love
Compositores: Paul McCartney e John Lennon
Artista: The Beatles
Gravação: Pathé Marconi, Paris; e Abbey Road Studios, Londres
Lançamento: Single, 1964 | A Hard Day’s Night, 1964

Can’t buy me love, love
Can’t buy me love
I’ll buy you a diamond ring, my friend
If it makes you feel alright
I’ll get you anything, my friend
If it makes you feel alright
Cause I don’t care too much for money
Money can’t buy me love
I’ll give you all I’ve got to give
If you say you love me too
I may not have a lot to give
But what I’ve got I’ll give to you
I don’t care too much for money
Money can’t buy me love
Can’t buy me love
Everybody tells me so
Can’t buy me love
No, no, no, no
Say you don’t need no diamond rings
And I’ll be satisfied
Tell me that you want the kind of things
That money just can’t buy
I don’t care too much for money
Money can’t buy me love
Can’t buy me love
Everybody tells me so
Can’t buy me love
No, no, no, no
Say you don’t need no diamond rings
And I’ll be satisfied
Tell me that you want the kind of things
That money just can’t buy
I don’t care too much for money
Money can’t buy me love
Can’t buy me love, love
Can’t buy me love

Desde muito cedo começamos a pensar em nós como Lennon e McCartney. Tínhamos ouvido falar em parcerias famosas, como Gilbert e Sullivan, Rodgers e Hammerstein. Lennon e McCartney? Soava bem. Trabalhávamos em dupla e podíamos nos enquadrar nesse padrão. Colocávamos nossos nomes lado a lado em nossos cadernos escolares. “Love Me Do” surgiu por volta dessa época, assim como “One After 909”. Foi bem no comecinho, talvez em 1957. Há uns dez ou quinze anos, encontrei aquele caderno. Coloquei na minha estante. Agora já o extraviei. Não sei onde está. Talvez ainda apareça em algum lugar. É o primeiro manuscrito de Lennon e McCartney.
Seja lá como for, a gente sempre fazia isto quando comprava os discos: além de conferir o título da canção, conferia os nomes entre parênteses. Leiber e Stoller, Goffin e King. Eram nomes mágicos para nós – todos esses, em especial os americanos –, talvez nem tanto Rodgers e Hammerstein, pois eram de uma geração anterior. Essa era a nossa época, e esses eram os compositores de nossa época. Quando fomos morar em Londres, John e eu começamos a conhecer compositores profissionais – gente como Mitch Murray e Peter Callander. Eles eram ligados ao escritório de nossa editora musical e todas as canções deles se tornavam sucessos – era algo natural para eles. Mitch escreveu canções como “How Do You Do It?”, que gravamos por sugestão de George Martin e quase se tornou o single de estreia dos Beatles. Então, John e eu olhávamos para esse pessoal e dizíamos: “Certo, podemos fazer isso. E se compusermos hits, vamos ganhar dinheiro. Talvez não nos compre amor, mas vai nos comprar um carro”.
Não era só pelo dinheiro. Era o prazer de tirar uma canção da cartola e conseguir tocá-la com nossa banda, que precisava de canções. Então meio que estávamos alimentando a máquina. Perguntamos à nossa gravadora: “Quantas vocês querem, chefia?”. Os caras da Capitol Records, Voyle Gilmore e Alan Livingston, vieram falar conosco. Dois cavalheiros bem californianos, em trajes feitos sob medida. Avisaram: “Bem, queremos quatro singles e um álbum por ano”. Consideramos aquilo bem viável.
Nisso, Brian Epstein, o nosso empresário de fala mansa e afável, nos liga e diz em seu sotaque calmo e perfeito de classe alta, sem vestígio algum de ter sido criado em Liverpool: “Vocês têm a próxima semana de folga para compor o próximo álbum”. E respondemos: “Beleza”. Fazíamos uma canção por dia. A gente se encontrava na minha casa ou na casa de John. Dois violões, dois bloquinhos, dois lápis. O restante do material era composto na estrada – aqui, ali e em todos os lugares –, mas para fazer um álbum você realmente alocava uma semana ou mais e só administrava.
Era sempre uma boa ideia estar no meio do processo porque nos fazia pensar: “E se escrevêssemos algo que soasse assim?” ou “Melhor escrever uma que soe assado”. Reconhecíamos uma lacuna que precisava ser preenchida e era justamente isso que nos inspirava, mais do que qualquer outra coisa. E o fato de estarmos lançando discos que faziam sucesso ajudava bastante. Era como se fôssemos atletas. Se está ganhando as corridas, pode falar: “Sim, acho que vou participar dessa também”.
Esta canção foi escrita ao piano, no Hotel George V, em Paris. Poucos anos antes, John e eu fomos a Paris pegando caronas e passeamos nos cafés. Esta foi uma visita bem diferente. O hotel ficava perto da Champs-Élysées, e tínhamos suítes espaçosas o suficiente para ter um piano. Estávamos na cidade para fazer umas três semanas de shows no Olympia. Naquela época, os shows eram bem curtinhos, mas fazíamos duas apresentações diárias. Hoje, quando eu faço shows, tocamos cerca de quarenta canções em três horas. Naquela época, provavelmente eram menos de dez, em torno de meia hora, se você inserisse um pouco de bate-papo com o público. O set list incluía canções como “From Me to You”, “She Loves You”, “This Boy” e “I Want to Hold Your Hand”. As outras eram covers, como “Roll Over Beethoven”, “Twist and Shout” e, para terminar, “Long Tall Sally”. Nossos dias em Hamburgo, quando tocávamos a noite inteira, todas as noites, serviram como um ótimo treinamento para temporadas como essa.
E como se quarenta e poucos shows não fossem suficientes, Brian também organizava todos esses outros compromissos, como sessões de composição e gravação. Nesse período em Paris, acabamos regravando “I Want to Hold Your Hand” e “She Loves You” em alemão: “Komm, gib mir deine Hand” e “Sie liebt dich”. A banda? Die Beatles. O nosso produtor, George Martin, veio gravar no estúdio Pathé Marconi, e ao mesmo tempo gravamos os canais básicos para “Can’t Buy Me Love”.
É um blues de doze compassos, com um toque dos Beatles no refrão, em que introduzimos uns acordes menores. Em geral, os acordes menores são usados na estrofe de uma canção, e os acordes maiores elevam e iluminam o clima no refrão. Aqui fizemos o contrário. A ideia é que todos esses bens materiais são muito bons, mas o dinheiro não compra o que você realmente precisa. Tem uma ironia aqui. Um pouco antes de Paris, estávamos na Flórida, onde o dinheiro talvez não comprasse amor, mas certamente comprava muita coisa. Acho que a premissa continua valendo. O dinheiro não compra uma família feliz nem amigos em quem você possa confiar. Mais tarde naquele ano, Ella Fitzgerald também gravou a canção, o que foi uma verdadeira honra.
O single fez muito sucesso, chegou ao número um no Reino Unido e nos Estados Unidos ao mesmo tempo. E então, curiosamente, foi desbancado do primeiro lugar no Reino Unido por “A World Without Love”, canção que escrevi para o irmão de Jane Asher, Peter. Ele e um amigo assinaram contrato com a EMI, e a canção foi lançada como a estreia da dupla Peter & Gordon. Tenho certeza de que também alcançou o primeiro lugar nos Estados Unidos. Escrevi essa canção quando eu tinha dezesseis anos em minha casa em Liverpool. Não achei que era forte o bastante para os Beatles, mas foi ótima para a carreira de Peter & Gordon. A canção começa com o verso “Please lock me away”, e quando eu a tocava era como se estivesse pedindo para me trancafiarem. Então John respondia, “Sim, ok”, e brincávamos que esse era o fim da canção.
Provavelmente muita gente por aí associa “Can’t Buy Me Love” ao filme A Hard Day’s Night (Os reis do iê-iê-iê). Ela toca numa cena em que enfim conseguimos sair do estúdio e nos divertir um pouco, numa espécie de video- clipe. Na realidade, a canção foi escrita especialmente para a trilha sonora do filme. O detalhado roteiro de Alun Owen resumia as nossas falas em breves tiradas, e assim não precisamos decorar muito. Mas, por isso, o filme é meio que responsável por imprimir em cada um de nós uma persona pública: John era o inteligente e mordaz; George, o calado; Ringo, o engraçado. Fui escolhido como o bonitinho. Era estranho ser reduzido a um par de características simplificadas aos olhos do mundo, e acho que muita gente até hoje ainda pensa em nós com base nos diálogos escritos para esse filme. Esse ponto de vista pode ser muito limitante, mas aprendemos a ignorá-lo.
Um detalhe importante não mudou: o tamanho do meu casaco. Em 1964, na estreia de A Hard Day’s Night, em Londres, usei um casaco de smoking com detalhes em veludo. Em 2016, na estreia do filme sobre a turnê dos Beatles, Eight Days a Week, também em Londres (e talvez pelo fato de, àquela altura, eu ser vegetariano há quarenta anos), vesti o mesmo casaco.

Paul McCartney: As Letras (1956 até o presente)

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