sábado, 16 de março de 2024

As trintas linhas

Um dia Álvaro Moreyra, já avô, contou-me que seu pai ainda lhe dizia: “Mas, Alvinho, por que tu não escreves coisas de mais fôlego?” E ele, espalmando as mãos num gesto de desculpa: “Mas eu não tenho fôlego, Papai...” Depois desta história, eu não precisava dizer mais nada. Contudo, não me sai da lembrança um professor dos meus tempos de ginásio que, ao darnos o tema para a Redação de Português, dizia: “Não adianta escreverem muito, meninos, porque só leio a primeira página; o resto, eu rasgo.” E assim nos dava, ao mesmo tempo, a primeira e a melhor lição de estilo, obrigando-nos a reter as rédeas de Pégaso e a dizer tudo (que aliás não podia ser muito) nas trinta linhas do papel almaço, contando título e assinatura. A ele, pois, ao saudoso major Leonardo Ribeiro, a minha gratidão e a dos meus leitores.

Mário Quintana, in Caderno H

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