(JULHO
DE 2014)
Uma
mulher é assassinada no Baixo Gávea ao meio-dia. Um avião é
derrubado e mata trezentas pessoas. Morre João Ubaldo Ribeiro.
Israel invade a Faixa de Gaza.
A
morte dos outros é um spoiler. Parece te revelar algo que você não
sabia, ou fingia não saber sobre você mesmo: você vai morrer. Olhe
à sua volta. Todo mundo vai morrer. A vida é pior que Game of
Thrones. Não sobra nem o anão. A vida só é possível enquanto
a gente esquece que a morte está à espreita. Os jornais, como a
revista Minha Novela, contam o que a gente não quer saber.
“Olha a morte ali, te esperando. Nada disso faz sentido. Nunca
fez.”
Há
quem busque um sentido na religião, só porque ela jura que o melhor
está por vir. O padre dá ao beato o mesmo conselho que um fã de
Breaking Bad dá àquele que está começando a série: só
vai ficar bom mesmo lá pela última temporada. Mas não pule nenhum
capítulo. Você vai ser recompensado. Confie em mim.
O
que vale para Breaking Bad não vale para a vida. O câncer
não regride quando você começa a vender drogas — infelizmente. A
vida está mais pra Lost. A cada episódio que passa surgem
novos mistérios. Prometem que no final tudo vai se esclarecer mas
tudo acaba de repente, com todo mundo se abraçando. Só te resta a
perplexidade: mas e aquele pé gigantesco? E aqueles números
malditos? E aquele moço que usa lápis no olho e não envelhece? E o
Rodrigo Santoro? Esquece. A vida vai morrer na praia.
O
que entendi é que é melhor desistir de entender. O roteirista da
vida é preguiçosíssimo. Personagens queridos somem do nada.
Personagens chatíssimos duram pra sempre. A gente vê episódios
inteiros de pura encheção de linguiça e, de repente, tudo o que
deveria ter acontecido numa temporada inteira acontece num dia só.
As coincidências não são críveis — e são numerosas demais. A
vida é inverossímil.
Aí
você me pergunta: vale a pena ver um seriado tão longo que pode ser
interrompido a qualquer momento sem que te expliquem porra nenhuma?
Talvez valha, como Seinfeld, pelas tardes com os amigos
tomando café e falando merda. Ou, como Girls, pelas cenas de
sexo. E pela nudez. Talvez valha, como Chaves, pra rir das
mesmas piadas e chorar quando você menos espera. Pelos churros.
Pelos sanduíches de presunto.
E
vale, de qualquer maneira, porque a vida, chata, óbvia ou
repetitiva, é a única coisa que está passando.
Gregório Duvivier, in Put some farofa
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