sábado, 30 de dezembro de 2023

Resposta ao tempo | Cristóvão Bastos e Aldir Blanc, 1998


Como o resto do mundo, o Brasil não ficou imune à invasão do bolero, que nasceu em Cuba, no início do século XX, e, a partir dos anos 1940, se espalhou pela América Latina, tendo grande influência no samba-canção, até o surgimento da bossa nova, quando começou a perder espaço como “cafona”. Mas o “dois pra lá, dois pra cá” de João Bosco e Aldir Blanc sempre tem vez na MPB, como “Resposta ao tempo”, lançado em 1998 por Nana Caymmi no álbum de mesmo nome, que virou um fenômeno de execução nas rádios brasileiras. Escolhida para ser o tema de abertura da minissérie Hilda Furacão, a gravação também se transformou no maior sucesso popular de Nana, uma diva até então restrita a um público mais sofisticado.
Aldir Blanc já tivera algumas boas experiências com o gênero em suas parcerias com João Bosco, geralmente exercendo o seu habitual e corrosivo humor, mas no bolero com o pianista e arranjador carioca Cristóvão Bastos (1947) preferiu explorar um lirismo profundo em forma de um diálogo com o tempo.
E o tempo se rói / Com inveja de mim / Me vigia querendo aprender / Como eu morro de amor / Pra tentar reviver.”
A música, a letra e a interpretação apaixonada de Nana fizeram de “Resposta ao tempo” a canção ideal para a minissérie baseada no romance do escritor mineiro Roberto Drummond. A letra de Aldir não faz menção alguma ao enredo ou a personagens – a história de uma jovem da sociedade que troca um casamento seguro pela prostituição na Belo Horizonte dos anos 1950 –, mas, em suas reflexões sobre o tempo e a existência, são muitos os pontos de contato com a história.
Essas impressões e sensações são reforçadas pela melodia e pelo belíssimo arranjo de Cristóvão Bastos, que, como compositor, tem parcerias também com Chico Buarque, Paulo César Pinheiro, Paulinho da Viola, Abel Silva e Elton Medeiros.
Lançado com a insuperável gravação de Nana, “Resposta ao tempo” virou um clássico que não parou de atrair outras grandes vozes, como Milton Nascimento, Leila Pinheiro, Simone e Fafá de Belém.

Nelson Motta, in 101 canções que tocaram o Brasil

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