Como
o resto do mundo, o Brasil não ficou imune à invasão do bolero,
que nasceu em Cuba, no início do século XX, e, a partir dos anos
1940, se espalhou pela América Latina, tendo grande influência no
samba-canção, até o surgimento da bossa nova, quando começou a
perder espaço como “cafona”. Mas o “dois pra lá, dois pra cá”
de João Bosco e Aldir Blanc sempre tem vez na MPB, como “Resposta
ao tempo”, lançado em 1998 por Nana Caymmi no álbum de mesmo
nome, que virou um fenômeno de execução nas rádios brasileiras.
Escolhida para ser o tema de abertura da minissérie Hilda
Furacão, a gravação também se transformou no maior sucesso
popular de Nana, uma diva até então restrita a um público mais
sofisticado.
Aldir
Blanc já tivera algumas boas experiências com o gênero em suas
parcerias com João Bosco, geralmente exercendo o seu habitual e
corrosivo humor, mas no bolero com o pianista e arranjador carioca
Cristóvão Bastos (1947) preferiu explorar um lirismo profundo em
forma de um diálogo com o tempo.
“E
o tempo se rói / Com inveja de mim / Me vigia querendo aprender /
Como eu morro de amor / Pra tentar reviver.”
A
música, a letra e a interpretação apaixonada de Nana fizeram de
“Resposta ao tempo” a canção ideal para a minissérie baseada
no romance do escritor mineiro Roberto Drummond. A letra de Aldir não
faz menção alguma ao enredo ou a personagens – a história de uma
jovem da sociedade que troca um casamento seguro pela prostituição
na Belo Horizonte dos anos 1950 –, mas, em suas reflexões sobre o
tempo e a existência, são muitos os pontos de contato com a
história.
Essas
impressões e sensações são reforçadas pela melodia e pelo
belíssimo arranjo de Cristóvão Bastos, que, como compositor, tem
parcerias também com Chico Buarque, Paulo César Pinheiro, Paulinho
da Viola, Abel Silva e Elton Medeiros.
Lançado
com a insuperável gravação de Nana, “Resposta ao tempo” virou
um clássico que não parou de atrair outras grandes vozes, como
Milton Nascimento, Leila Pinheiro, Simone e Fafá de Belém.
Nelson Motta, in 101 canções que tocaram o Brasil
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