domingo, 3 de dezembro de 2023

Laranja Mecânica | Capítulo 4


Na manhã seguinte eu acordei às oito em ponto, meus irmãos, e como eu ainda estava me sentindo cansado, chateado e de saco cheio, e meus glazes estavam grudados de remela muito horrorshow, eu resolvi que não ia à escola. Resolvi ficar um malenquinho mais na cama, digamos uma hora ou duas, e depois me vestir com calminha, talvez até dar um esploche no banheiro, depois preparar um bule de tchai horrorshow bem forte, fazer torradas pra mim e esluchar o rádio, ou ler a gazeta, muito no meu odinoque. E então, depois do café talvez eu itasse, se ainda estivesse com vontade, até o velho escoliuol, pra ver o que e que estavam varitando naquela grande sede do saber glupe e inútil, ó meus irmãos. Ouvi meu papapá resmungando e mexendo com os pés e depois itiando para a velha estamparia de tecidos onde ele rabitava, e aí minha mamãe entrou me chamando com uma voz muito respeitosa, como ela fazia agora que eu estava crescendo, grande e forte:
Já passa das oito, meu filho. Não vá se atrasar de novo.
Eu retruquei: – Tô com um pouco de dor de gúliver. Me deixa quieto que eu vou tentar dormir pra ver se passa e aí, de tarde, eu vou estar tinindo. Eu esluchei ela dar uma espécie de suspiro e aí falou:
Então eu vou botar a sua comida no forno, meu filho. Eu também já vou saindo. - O que era verdade, porque tinha aquela lei mandando que todo mundo que não fosse criança, nem com crianças, nem doente tinha que rabitar fora. A mãe trabalhava num dos Mercados Estatais, como eles chamavam, enchendo as prateleiras de sopa e feijão em lata e essa quel toda. Então eu esluchei o tlenque do prato no forno a gás e depois ela calçando os sapatos, depois apanhando o casaco atrás da porta, depois suspirando de novo, e ela falou: “Eu já vou, meu filho.” Mas eu procurei voltar pra sonolândia e aí peguei no sono muito horrorshow e, por alguma razão, tive um esnite esquisito e muito real, com o meu drugue Georgie. Nesse esnite ele já estava assim muito mais velho e muito severo e muito durão e estava govoritando sobre disciplina e obediência e dizendo que todos os maltchiques sob seu controle tinham que andar muito na linha e bater continência, como se estivessem no exército, e lá estava eu nas fileiras assim que nem os outros, dizendo sim senhor e não senhor, e videei claramente que Georgie estava com aquelas estrelas nos pletchos e era assim um general. E ai ele trouxe o Tapado com um chicote e o Tapado estava muito mais, estarre e grisalho e estava com alguns zubes faltando, o que eu pude ver quando ele deixou escapar um esmeque me videando, e aí o meu drugue Georgie disse assim apontando pra mim: “Esse homem aí está com as pletes cheias de sujeira e quel!”. e era verdade.
Aí eu critchei:
Não batam em mim não, por favor, não batam em mim, meus irmãos!”, e comecei a correr. E fiquei correndo assim em círculos, o Tapado atrás de mim esmecando à beça, estalando o chicote e, de cada vez que eu levava um toltchoque horrorshow do chicote dele, era como se fosse uma campainha elétrica tocando muito alto trrrintrrrintrrin, e essa campainha era unia espécie de dor também.
Ai, eu acordei escorre, meu coração taque taque taque. e, naturalmente, tinha mesnio uma campainha fazendo brrrr e era a da porta da frente. Eu fingi que não tinha ninguém emi casa, mas aquele brrrr continuou, e aí eu ouvi uma golosse gritando do outro lado da porta: “Anda, anda, deixa disso, eu sei que você está na cama!” Eu reconheci a golosse imediatamente. Era a golosse de P.R. Deltoid (esse aí era um naze muito glupe), que chamavam de meu consultor pós-correcional, um veque sobrecarregado de trabalho, com centenas de nomes nos seus caderninhos. Eu gritei certo, certo, certo, com uma voz assim de dor, e me levantei e fui me ataviar, ó meus irmãos num muito lindo chambre de seda assini com desenhos de grandes cidades. todos estampadas em cima desse chambre. Depois meti os meus nogas dentro de cômodas tuflas de lã, penteei a minha bela cabeleira e estava pronto para o Sr. P. R. Deltoid. Quando eu abri a porta, ele entrou arrastando os pés, desgrenhado um chilapa surrado no gúliver, a capa de chuva imunda. – Ah, menino Alex – disse-me ele. – Encontrei sua mãe, não é? Ela falou alguma coisa a respeito de uma dor. Daí, escola nada, não é?
Uma dor de cabeça insuportável, irmão, Sr. Deltoid – disse eu com a minha golosse de cavalheiro. – Acho que deverá ceder durante a tarde.
Ou certamente durante a noite, não é? - disse P. R. Deltoid. - A noite é a grande hora, não é, menino Alex?
Sente-se. “Senta, senta...” como se fosse a dome dele e eu a visita. E ele sentou naquela cadeira de balanço estarre do meu pai e começou a balançar, como se só tivesse vindo pra isso. Eu falei:
Uma xícara de tchai, Sr. Deltoid? Chá, quero dizer.
Não dá tempo – disse ele. E balançava, com aquele olhar faiscante debaixo das sobrancelhas cerradas, como se dispusesse de todo o tempo deste mundo. – Não dá tempo, não é? - disse ele. Aí eu botei a chaleira no fogo.
E falei:
A que devo o extremo prazer? Alguma coisa errada, Sr. Deltoid?
Errada? – disse ele muito escorre e astuto, olhando pra mim meio curvado mas ainda se balançando. Aí ele viu um anúncio na gazeta que estava em cima da mesa – uma linda ptitsa esmecante, com os grudes de fora anunciando, meus irmãos, as Glórias das Praias Iugoslavas. Então, depois de tê-la comido em duas deglutidas, ele falou: – Por que é que você está pensando em termos de haver alguma Coisa errada? Você andou fazendo alguma coisa que não devia, é?
É só maneira de falar – disse eu – Sr. Deltoid.
Pois bem – disse P. R. Deltoid – é só maneira de falar, de mim pra você, pra você tomar cuidado, Alexinho, porque a próxima vez, como você sabe muito bem, não vai mais ser a escola correcional. Da próxima vez vai ser nas grades, e todo o meu trabalho vai por água abaixo. Se você não tem consideração para com o seu próprio eu horrendo, pelo menos tenha alguma para comigo, que suei muito por sua causa. Uma grande mancha negra, digo-lhe confidencialmente, pra cada um de vocês que acaba atrás das grades.
Eu não andei fazendo nada que não devia, Sr. Deltoid – disse eu. – Os milicentes não têm nada contra mim, irmão, Sr. Deltoid, quero dizer.
Corta essa conversa de malandro a respeito de milicentes – disse P. R. Deltoid, muito cansado mas ainda se balançando na cadeira. – Só porque a polícia não pegou você ultimamente, isso não quer dizer, como você sabe muito bem, que você não tenha andado fazendo alguma safadeza. Teve uma briguinha ontem à noite, não teve? Teve uma dança com nojes e correntes de bicicleta e coisas assim. Um amigo de um certo rapaz gordo foi recolhido, não faz muito tempo, por uma ambulância, perto da Usina Elétrica, e hospitalizado, todo cheio de cortes muito desagradáveis, não é? O teu nome foi mencionado. A notícia me chegou pelos canais habituais. Certos amigos teus também foram mencionados. Aparentemente houve uma boa quantidade de safadezas sortidas, ontem à noite. Ah, ninguém pode provar nada contra ninguém, como sempre. Mas eu estou lhe prevenindo, Alexinho, porque sou seu amigo como sempre, e o único homem nesta comunidade dorida e doente que quer salvar você de você mesmo.
Eu agradeço muito, Sr. Deltoid disse eu –, muito sinceramente.
É, você agradece, não é? – zombou ele. – Tome cuidado, só isso, tá? Nós estamos mais por dentro do que você está pensando, Alexinho. – Aí, ele falou, com uma golosse de grande sofrimento, mais ainda se balançando:
O que é que vocês têm? Nós estudamos o problema e estamos estudando já há, puxa vida, quase um século, mas não progredimos nesse estudo. Vocês têm boas casas, bons pais, umas cabeças nada más... E algum demônio que baixa em vocês?
Ninguém tem nada contra mim, senhor – disse eu.
Eu já saí dos rúqueres dos milicentes há muito tempo.
É exatamente isso que me preocupa – suspirou P. R. Deltoid. – É tempo demais pra ser saudável. Você está pra chegar lá, pelos meus cálculos. É por isso que estou prevenindo você, Alexinho, pra tirar a sua bela trombazinha da lama, não é? Estou sendo claro?
Como um lago sem lodo, Sr. Deltoid – disse eu. – Claro como um céu azul do mais profundo verão. O senhor pode confiar em mim. – E lhe dei um belo sorriso cheio de zubes.
Mas quando ele ucaditou e eu estava fazendo aquele bule de tchai muito forte, eu sorri comigo mesmo dessa véssiche com a qual se preocupavam P. R. Deltoid e seus drugues. Tá bom, eu ajo errado com esse negócio de craste, de toltchoque e de rasgões a britva e o velho entra-sai-entra-sai, mas se eu for lovetado, pior pra mim, ó meus irmãos, que ninguém pode governar um país com todos os tcheloveques se comportando da maneira que eu me comporto à noite. Portanto, se eu for lovetado e forem três meses num méssito e depois seis meses noutro e aí, como adverte amavelmente o P. R. Deltoid, e a despeito da tenrura dos meus janeiros, irmãos, vai ser o jardim zoológico do outro mundo, eu digo: “Tá certo, mas é uma pena, meus senhores, porque não suporto ficar trancado. Meus esforços, no futuro que estende para mim os seus braços brancos como lírios, serão voltados para que, antes, a noje me alcance, ou que o sangue esguiche seu compasso final em metal retorcido e vidro estilhaçado na estrada, pra não ser lovetado de novo.” O que é um belo discurso. Mas, irmãos, eles ficarem roendo a unha do pé pra saber a causa da ruindade é que me deixa um bom maltchique ridente. Eles não procuram a causa da bondade, por que então ficar cavucando do outro lado? Se as líudes são boas é porque gostam, e eu nunca desmancharia os prazeres deles, e do outro lado a mesma coisa. E eu estava defendendo esse outro lado. Mais ainda, a ruindade faz parte do ser, do eu, tanto em mim quanto em vocês no odinoque, e este eu é feito por Bog, ou Deus, e é o seu grande orgulho e radoste. Mas o não-ser não pode aceitar o mal, quer dizer, os do governo, os juízes e os colégios não podem permitir o mal porque não podem permitir a individualidade. E não é a nossa História moderna, meus irmãos, a história de bravas individualidades malenques lutando contra essas máquinas enormes? Quanto a isto, meus irmãos, eu estou falando com toda a seriedade. Mas, o que faço, faço porque gosto.
Por isso, agora, nessa sorridente manhã de inverno, eu tomo meu tchai com moloco e colheres e colheres e colheres de açúcar, que eu tenho boa boca pra esládique, e pesquei no forno a refeição matinal que a coitada da mãe fez pra mim. Era um ovo frito, nada mais do que isso, mas eu fiz torrada e comi ovo com torrada e geleia, estalando a língua enquanto lia a gazeta. A gazeta era o trivial, sobre ultraviolência, assaltos a bancos, greves e jogadores de futebol deixando todo mundo paralítico de medo, ameaçando não jogar no sábado seguinte se não fossem aumentados, maltchiquezinhos travessos que eles eram. Também havia mais viagens espaciais e telas de TV estéreo maiores e ofertas de pacotes de sopa em flocos, grátis em troca de rótulos de latas de sopa, maravilhosa oferta só esta semana, o que me fez esmecar. E tinha um bolche artigo sobre Juventude Moderna (ou seja, de mim – eu fiz uma reverência, rindo que nem bezúmine), escrito por algum tcheloveque careca, muito competente. Isso eu li com atenção, meus irmãos, mamando o meu tchai, xícaras e canecas e tchachas, roendo os meus lontiques de torrada escura mergulhada em geleinha e ovinho. Esse veque, instruído dizia as véssiches habituais sobre falta de disciplina paterna, como ele chamava, e a carência de professores realmente horrorshow para tirar fora a vergastadas a sacanagem dos seus inocentes pupilos e fazê-los abrir o berreiro por demência. Tudo isso era glupe demais e me fez esmecar, mas era agradável continuar sabendo que a gente está fazendo as notícias sem parar, ó meus irmãos. Todo dia tinha alguma coisa sobre Juventude Moderna, mas a melhor véssiche que eles já tinham botado na gazeta foi um estarre dum padre de colarinho duro que disse que, na sua ponderada opinião, e ele estava govoritando como homem de Bog, ERA O DIABO QUE ESTAVA À SOLTA, e que estava predando o seu caminho através da carne inocente, e que o mundo adulto é que devia ser responsabilizado por isso, com suas guerras, suas bombas e seus absurdos. E isso estava certo. E ele sabia o que estava falando, sendo um homem de Deus. E nós, os maltchiques inocentes, não podíamos levar a culpa. Certo, certo, certo.
Depois de arrotar um par de razes, com meu estômago inocente cheio, comecei a tirar pletes de dia do meu guarda-roupas, ligando o rádio. Estava tocando música, um quarteto de cordas malenque muito bonito, meus irmãos de Claudius Birdman, um que eu conhecia bem. Mas eu tinha que dar um esmeque pensando no que tinha videado uma vez num desses artigos sobre Juventude Moderna e de como a Juventude Moderna poderia ser melhor se mia Viva Apreciação das Artes pudesse ser incrementada. A Grande Música, diziam, e a Grande Poesia, aquietariam a Juventude Moderna e fariam a Juventude Moderna mais civilizada. Civilizada, meus iarbos sifilíticos. A música sempre me deixava arrepiado, ó meus irmãos, e me fazia sentir como o próprio Bog, pronto a disparar raios e trovões e ter os veques e as ptitsas critchando sob o meu gargalhante poder. E, depois de tchistar um pouco o meu litso e rúqueres e me vestir (minhas pletes diurnas eram de estudante: as velhas pantalonas azuis e um suéter com um A, de Alex), eu pensei que agora, pelo menos, eu tinha tempo para itar até a discobutique (e cortador também, meus bolsos estavam cheios de tutu) pra ver o negócio da gravação, há tanto tempo prometida e há tanto tempo pedida, da Nona de Beethoven (isto é, a Sinfonia Coral), gravada na Masterstroke pela Esh Sham Sinfonia, sob a regência de L. Muhaiwir. Portanto, irmãos, saí.
O dia era muito diferente da noite. A noite pertencia a mim e a meus drugues e ao resto dos nadsats, e os estarres burgueses se entocavam dentro de casa, bebendo nos programas mundiais glupes de televisão, mas o dia era pros estarres e também apareciam sempre mais rodzes ou milicentes zanzando durante o dia. Tomei o ônibus na esquina e segui pro Centro, depois voltei até Taylor Place, e lá estava a discobutique que eu favorecia com o meu patrocínio, ó meus irmãos. Tinha o nome glupe de MELODIA, mas era um méssito realmente horrorshow e escorre na maioria das vezes, pra receber as gravações novas. Entrei, e as duas únicas freguesas eram duas ptitsas chupando Picolés (e estávamos, notem, num inverno frio de matar)remexendo os novos discos pop – Johnny Burnaway, Stash Kroh, The Mixers, Lay Quiet Awhile With Ed And ld Molotov, e o resto da quel toda. Essas duas ptitsas não podiam ter mais de dez anos e, evidentemente, parecia que elas também, que nem eu, tinham resolvido tirar manhã de folga do escoliuol. Via-se que elas achavam que já eram realmente devótchecas crescidas, requebrando os quadris quando viram o Vosso Fiel Narrador, irmãos, e grudes com enchimento vermelho plochado nos gúberes. Eu fui até o balcão, botando o sorriso cortês, cheio de zubes, para o velho Andy lá atrás (ele também sempre cortês, sempre útil, um tipo de veque realmente horrorshow, se bem que careca e muito magro). Ele disse:
Ah, eu acho que sei o que o senhor quer. Boas notícias, boas notícias. Chegou. – E com os rúqueres como os de um grande regente, marcando o compasso, ele foi buscar. As duas jovens ptitsas começaram a dar risadinhas, como elas fazem naquela idade, e eu lhes lancei um glazear frio. Andy voltou muito escorre, brandindo a grande capa branca reluzente da Nona que tinha impresso, ó irmãos, o litso carrancudo do próprio Ludwig van, como um trovão engarrafado. Aí está
disse Andy. - Vamos dar a rodada inaugural? – Mas eu queria ele de volta à casa, no meu estéreo, para esluchar no meu odinoque, numa secura danada. Remexi o dengue pra pagar e urna das ptitsazinhas disse:
Quem cê paganhou, brete? Que norme, só unzão?
Essas devótebecas muito garotas tinham a sua maneira própria de govoritar. “The Seaven Seventeen? Luke Sterne? Goggly Gogol?” E ambas deram risinhos balançando os quadris. Aí, me bateu uma idéia que me fez cambalear de angustia e êxtase, ó meus irmãos, tanto que não pude respirar durante quase dez segundos. Eu me refiz, botei meus zubes recém-limpos pra fora e disse:
O que é que vocês têm em casa, maninhas, pra tocar esses trinados convusos? Porque eu estava videando que os discos que elas estavam comprando eram essas véssiches pop de recém-adolescentes. - Aposto que vocês tem assim dessas vitrolinhas portáteis baratas de piquenique. – Com essa elas meio torceram o beiço inferior – Venham com o titio – disse eu – e ouçam como deve. Ouçam trompetes dos anjos e trombones do demônio.
Estão convidadas. – E fiz assim uma mesura. Elas tornaram a dar risinhos e uma delas disse:
Ih, mas a gente tá com tanta fome. Ih, .a gente bem que podia comer. – A outra disse: E, ela falou. Ela falou mesmo. – Aí, eu disse:
Venham comer com o titio. Digam o lugar.
Então elas se videaram entre elas como verdadeiras sofisticadas, o que era patético, e começaram a falar com golosse de grandes damas sobre o Ritz, o Bristol, o Hilton e o Ristorante Granturco. Mas eu acabei com aquilo com um “venham com o titio”, e levei elas para a Pasta Parlour, dobrando a esquina, e deixei que elas enchessem os inocentes litsozinhos de espaguete e salsichas e bombas de creme e banana-splits, e calda de chocolate quente, até que eu quase enjoei vendo aquilo, eu, irmãos, lanchando apenas frugalmente uma fatia de presunto frio e uma braba bombada de pimenta. Essas duas ptitsas eram muito parecidas, se bem que não fossem irmãs. Tinham as mesmas idéias, ou falta de, a mesma cor de cabelo, assim uma tintura cor de palha.
Bem, hoje elas iam crescer de verdade. Hoje eu ia dedicar o dia a isso. Nada de escola depois daquela merenda, mas instrução, garantida, com Alex de professor. Seus nomes, disseram, eram Marty e Sonietta, bastante bezúmines e no rigor da moda infantil. Então eu disse:
Certo, certo, Marty e Sonietta. Tá na hora da grande audição. Vamos. - Quando estávamos na rua fria, elas pensaram que não iam de ônibus, ah, não, mas de táxi, então eu fiz a vontade delas, se bem que com um sorriso interior horrorshow, e chamei um táxi da fila perto do Center. O motorista, um veque estarre que usava suíças, de pletes muito enodoadas, falou:
Nada de rasgar. Nada de bobagem com esses assentos. Acabaram de ser estofados de novo.
Eu acalmei os seus temores glupes e lá rodamos nós pro Edifício Municipal 18-A, as duas ptitsazinhas despachadas rindo e cochichando. Portanto, para encurtar a história, chegamos, ó meus irmãos, e eu fui subindo pra mostrar o caminho até o 10-8, e elas ofegaram e esmecaram até lá em cima e aí disseram que estavam com sede, então eu abri a arca dos tesouros no meu quarto e dei àquelas devótchecas de dez aninhos um escocês horrorshow pra cada, ainda que bem cheio de soda espirrando alfinetes e agulhas. Elas sentaram na minha cama (ainda por fazer) de pernas balançando, esmecando e pitando os uísques com soda enquanto eu tocava o seu patético disquinho malenque no meu estéreo. Aquilo era assim como pitar alguma perfumada bebida infantil em taças de ouro, belas e caras. Mas elas faziam ah ah ah e diziam “desmaico”, “montanho” e outros eslovos bizarros que eram a última moda dentro daquele grupo etário. Enquanto eu rodava aquela quel pra elas, eu ia dando força pra beber e tomar outro, e elas não estavam nada abominando, ó meus irmãos.
Portanto, quando os seus patéticos discos já tinham tocado duas vezes cada um (eram dois: Honey Nose, cantado por Ike Yard e Night Afier Day Afier Night, gemido por dois horrendos eunucos sem iarbos cujos nomes me esqueço agora), elas estavam chegando ao ponto de histeria de ptitsas jovens, dando pulos em cima da minha cama e eu no quarto com elas.
O que foi efetivamente feito naquela tarde não precisa ser descrito, irmãos, vocês bem podem adivinhar. Logo logo aquelas duas estavam despletadas e esmecando de arrebentar e achando a graça mais bolche do mundo videar o tio Alex ali, de pé, completamente nagói e de cabo-de-panela, espremendo a seringa hipodérmica que nem um médico pelado e depois me aplicando no rúquer o velho pico, de secreção de gato-do-mato. Então eu puxei a linda Nona de dentro da capa, de modo que Ludwig van agora também estava nagói e botei a agulha pra chiar no último movimento, que era pura beatitude. Lã estava ela, pois, os contrabaixos como que govoritando debaixo da minha cama com o resto da orquestra, e então a golosse humana masculina entrando e dizendo a eles todos que se alegrassem, e aí a melodia beatifica, linda, que diz que a Alegria é uma gloriosa centelha do céu, e aí eu senti os tigres pularem dentro de mim e pulei pra cima das duas jovens ptitsas.
Dessa vez elas não acharam nada engraçado e pararam de critchar com grande deleite e tiveram de se submeter aos estranhos e insólitos desejos de Alexandre o grande que, com a Nona e o pico, estavam chudésines, zamechates e muito exigentes, ó meus irmãos. Mas elas estavam muito bêbedas e não podiam sentir grande coisa.
Quando o segundo movimento tinha tocado pela segunda vez, ribombando e critchando Alegria Alegria Alegria Alegria, aí as duas ptitsas não estavam mais fazendo o gênero dama sofisticada. Estavam assim acordando para o que estava sendo feito com as suas malenques pessoas, e dizendo que queriam ir pra casa e que eu era assim uma besta selvagem. Pareciam que tinham estado em alguma bitva, como realmente tinham, e estavam todas machucadas e amuadas. Bom, mesmo que não quisessem ir à escola, tinham que receber alguma instrução. E instrução elas tinham recebido. Estavam critchando e fazendo ai ai ai enquanto botavam as pletes, e me davam soquinhos com os seus pulsinhos de gurias enquanto eu ficava na cama deitado, sujo e nu, cansado e chateado.
A jovem Sonietta estava critchando: “Besta de animal repelente! Porco horroroso!” Então eu deixei elas apanharem as coisas delas e saírem, o que fizeram dizendo que deviam chamar os rodzes pra me pegar e aquela quel toda. Aí, foram descendo as escadas e eu me deixei pegar no sono, ainda com a Alegria Alegria Alegria Alegria rachando e ululando.

Anthony Burgess, in Laranja Mecânica

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