A
igreja era grande e pobre. Os altares, humildes.
Havia
poucas flores. Eram flores de horta.
Sob
a luz fraca, na sombra esculpida
(quais
as imagens e quais os fiéis?)
ficávamos.
Do
padre cansado o murmúrio de reza
subia
às tábuas do forro,
batia
no púlpito seco,
entranhava-se
na onda, minúscula e forte, de incenso,
perdia-se.
Não,
não se perdia…
Desatava-se
do coro a música deliciosa
(que
esperas ouvir à hora da morte, ou depois da morte, nas
[campinas
do ar)
e
dessa música surgiam meninas — a alvura mesma —
cantando.
De
seu peso terrestre a nave libertada,
como
do tempo atroz imunes nossas almas,
flutuávamos
no
canto matinal, sobre a treva do vale.
Carlos Drummond de Andrade, in Claro Enigma
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