Paul e Jane Asher no teatro, 1963
And
I Love Her
Compositores:
Paul McCartney e John Lennon
Artista:
The Beatles
Gravação:
Abbey Road Studios, Londres
Lançamento:
A Hard Day’s Night, 1964
I
give her all my love
That’s
all I do
And
if you saw my love
You’d
love her too
I
love her
She
gives me everything
And
tenderly
The
kiss my lover brings
She
brings to me
And
I love her
A
love like ours
Could
never die
As
long as I
Have
you near me
Bright
are the stars that shine
Dark
is the sky
I
know this love of mine
Will
never die
And
I love her
A
charmosa Wimpole Street fica em Marylebone, o tipo do bairro que
muita gente visualiza ao pensar em Londres. Parece algo emergido de
Mary Poppins – casas geminadas eduardianas com uma formação
bastante literária: foi nessa rua que os poetas Elizabeth Barrett e
Robert Browning se conheceram (história contada no filme A
família Barrett); Virginia Woolf a descreveu como “a mais
augusta das ruas de Londres”; e era ali que Henry Higgins, o
professor de fonética de Pigmalião, supostamente morava. Mas
vamos deixar de lado a família Barrett e todas essas referências.
Quero falar de outra família que morava na Wimpole Street. Para ser
mais exato, no número 57. A família Asher. E foi na casa de minha
namorada Jane Asher que eu escrevi esta canção.
Quando
as coisas realmente começaram a engrenar para os Beatles, por volta
de 1963, saímos de Liverpool para morar em Londres. Em parte, isso
aconteceu porque na capital ficava a “indústria” musical, mas
também era um novo mundo de aventuras. A cidade ainda se recuperava
dos bombardeios da guerra e passava por uma grande remodelação: no
período em que morei na Wimpole Street, a Post Office Tower estava
sendo construída, a uns dez minutos a pé da casa dos Asher. Por um
tempo, aquele foi o prédio mais alto da cidade, e eu podia avistá-lo
da janela de minha mansarda no sótão. Havia uma genuína sensação
de renovação e agito em Londres; era um lugar empolgante para se
estar.
Eu
estava me hospedando na casa de Jane em parte porque não tinha
gostado do local que Brian Epstein havia arranjado para nós ficarmos
em Mayfair. Ele era um sujeito elegante, de gosto sofisticado, mas o
lugar não tinha alma, e embora eu viesse de origens humildes –
especialmente comparando com o distrito de Mayfair –, a nossa casa
tinha alma, e todas as casas de meus tios e tias tinham alma. E
aquele era um flat sem atrativos e sem mobília. Eu tinha apenas 21
anos e nunca pensei em comprar quadros para decoração. Simplesmente
me irritei pelo fato de não ter nada pendurado nas paredes.
Jane
e eu nos conhecemos na primavera de 1963, quando ela foi ao Royal
Albert Hall entrevistar os Beatles para a revista Radio Times.
Eu me lembro de que todos ficamos surpresos com os cabelos ruivos
dela, porque antes só a tínhamos visto em preto e branco. Ela e eu
começamos a namorar pouco depois e, mais perto do fim do ano, os
Asher devem ter me ouvido reclamando sobre Mayfair e disseram: “Bem,
você não quer ficar aqui?”. Esse gesto seguia a longa tradição
de oferecer um sótão a um artista faminto. Assim, ganhei um
quartinho lá em cima, perto do quarto do irmão de Jane, Peter. Jane
devia ter uns 17, 18 anos, e Peter era um pouco mais velho, 19 ou 20
anos nessa época. E, embora tecnicamente eu fosse um inquilino, eu
costumava fazer as refeições com a família e me lembro de que tudo
funcionava às mil maravilhas.
Morar
lá me abriu os olhos, porque eu nunca tinha visto essa classe de
pessoas, exceto talvez na televisão. Nunca tinha conhecido alguém
assim antes. Brian Epstein era um tipo classudo, mas não daquele
tipo de classe; de certa forma, essa era uma espécie de família do
showbiz. Margaret, a mãe de Jane, a levou a testes, e Jane
começou fazendo comerciais e coisas assim (o que me faz lembrar da
velha canção de Noël Coward, “Don’t Put Your Daughter on the
Stage, Mrs. Worthington”, ou “Não coloque sua filha no palco,
sra. Worthington”). E com o sucesso de Jane como atriz,
participando de filmes desde os anos 1950, acho que Peter e a caçula
Clare também fizeram testes.
O
fato é que a família sabia tudo sobre arte, cultura e sociedade,
enquanto eu não conhecia ninguém que soubesse como fazer testes ou
tivesse um agente. Era muito legal ficar naquela casa. Muitos livros
para ler, obras de arte nas paredes, conversas interessantes; e
Margaret era professora de música. Seja como for, era um lar, e eu
sentia muita falta disso desde que eu tinha vindo de Liverpool e
desde que a minha mãe tinha morrido, seis ou sete anos antes.
No
que diz respeito aos tabloides de fofoca, Jane e eu éramos o que
eles chamavam de um “casal badalado”. Tanto que fomos ao teatro
uma noite – eu curtia literatura e teatro, e claro que ela, como
atriz, também curtia, e isso talvez explique a atração que senti
por ela desde o começo –, e no intervalo as luzes se acenderam.
Tínhamos decidido não ir ao bar e apenas ficar ali de boa. Tirando
uns grandes shows iniciais, eu realmente não estava acostumado com
os fardos pessoais impostos pela fama, então estávamos ali
conversando em nossos assentos e de repente uns dez paparazzi
vieram correndo com aquelas câmeras disparando um flash atrás do
outro, como em La Dolce Vita e, num piscar de olhos,
dispersaram. Pareciam os guardas Keystone daquele filme pastelão.
Mas, meu Deus, ficamos chocados. Alguém do teatro
provavelmente deu a dica a eles, a fim de angariar publicidade para a
peça.
Mas,
justamente porque Jane era minha namorada, eu quis dizer a ela ali
mesmo que eu a amava, então essa foi a inspiração inicial
desta canção, o gatilho que a desencadeou. Ao ouvi-la, tantos anos
depois, acho que é uma melodia bonita. Ela começa em Fá sustenido
menor, não com o acorde principal em Mi maior, e você
paulatinamente reconstrói seu caminho de volta. Quando eu a concluí,
quase na mesma hora senti uma pontinha de orgulho. Pensei: “Esta é
das boas”.
Ela
realmente me tocou, então pensei que poderia tocar outras pessoas
também. Eu a trouxe à sessão de gravação, onde o produtor dos
Beatles, George Martin, a ouviu. Estávamos prestes a gravá-la
quando ele disparou: “Ficaria melhor com uma introdução”. E eu
juro, na mesma hora, George Harrison falou: “Bem, que tal isto?”.
E dedilhou o riff de abertura, que é um gancho e tanto; a canção
não é nada sem ele. Trabalhávamos muito rápido, e as ideias
brotavam espontaneamente.
Vale
a pena lembrar outro detalhe. Por iniciativa de George Martin, foi
adicionada uma modulação de acordes no solo da canção, uma
mudança na tonalidade que ele, com sua experiência, sabia que seria
muito satisfatória musicalmente. Mudamos a progressão de acordes
para que ela começasse em Sol menor em vez de Fá sustenido menor –
ou seja, um semitom para cima. Acho que o treinamento clássico de
George Martin lhe sugeriu que seria uma mudança realmente
interessante. E é. Esse tipo de ajuda foi o que tornou o material
dos Beatles melhor do que o de outros compositores. No caso desta
canção, os dois Georges – George Harrison com a introdução e
depois George Martin na mudança de tonalidade para o solo –
deram-lhe uma força musical extra. Estávamos dizendo às pessoas:
“Somos um pouquinho mais musicais do que o normal”. E então, é
claro, a canção – que agora está em Fá maior ou, possivelmente,
Ré menor – por fim desemboca naquele brilhante acorde em Ré
maior, uma conclusão doce e agradável. Fiquei com muito orgulho
dela. Foi muito gratificante ter escrito e gravado esta canção para
Jane.
Muitos
anos depois, e um bom tempo após termos morado no distrito de St.
John’s Wood, topei com ela quando fui a um médico na Wimpole
Street, em Marylebone. Fui indo pela rua e me bateu uma nostalgia.
Quando passei pela casa, pensei: “Uau, que recordações incríveis
esse lugar me traz”. E segui até onde ficava o meu médico.
Apertei a campainha. Súbito, senti uma presença atrás de mim. Eu
me virei, e era Jane. Falei: “Meu Deus, eu estava justamente
pensando em você e na sua casa”.
Essa
foi a última vez que a vi, mas as lembranças não esvanecem.
Paul McCartney: As Letras – 1956 até o presente
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