Foi
triste o encontro. Não via esta pessoa há muito tempo mesmo. Fiquei
surpreendida: a alma desta pessoa tinha murchado e pendia solta sem
sequer aflição. Tentei como pude insuflar-lhe vida como se insufla
vida num afogado. Mas a pessoa não queria se salvar. Continua bacana
e de caráter imaculado. Perdeu-se, porém. É urgente que ele se
encontre consigo próprio. Só então passará a ter sentimentos.
O
segundo encontro foi rapidíssimo: coisa de tomar o mesmo elevador.
Há muito tempo eu não via esta pessoa. E o que vi me agradou: era
uma pessoa cansada porém em plena atividade.
O
terceiro encontro – como nos Três mosqueteiros que na
verdade são quatro – foi duplo: revi as duas filhas de Aluísio e
Solange Magalhães. Uma tem meu nome e é engraçado a gente se
falar. Parece que se está tendo o diálogo perfeito. Deu-me dois
quadros por ela desenhados e em um deles escreveu: “Para Clarice de
Clarice.” E havia a quarta mosqueteira que era Carolina. São o que
se pode esperar de uma criança: limpidez e pureza e criatividade e
afeto e naturalidade. Foi um encontro feliz.
Clarice Lispector, in Todas as crônicas
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