Como
determinar se a arte é boa ou má em seu conteúdo?
A
arte, juntamente com a fala, é um meio de comunicação e, portanto,
também de progresso — isto é, da caminhada da humanidade rumo à
perfeição. A fala permite que as gerações posteriores saibam tudo
o que as gerações precedentes sabiam e o que os melhores entre seus
contemporâneos sabem por experiência e reflexão. A arte permite
que as gerações posteriores experimentem todos os sentimentos
vivenciados por outras antes delas e que as pessoas mais avançadas
vivenciam agora. E, tal como na evolução do conhecimento — isto
é, a suplantação de conhecimento errôneo e desnecessário por
conhecimento mais verdadeiro e necessário —, assim também a
evolução dos sentimentos se dá por meio da arte, substituindo
sentimentos mais baixos, menos generosos e menos necessários para o
bem da humanidade por sentimentos mais benignos e mais necessários
para esse bem. Esse é o propósito da arte. E, portanto, o seu
conteúdo é melhor quanto mais atende a esse propósito, e é pior
na medida em que o atende menos.
A
avaliação dos sentimentos — ou seja, o seu reconhecimento como
mais ou menos bons, no sentido de serem mais ou menos necessários
para o bem do povo — é obtida pela consciência religiosa de uma
determinada época.
Em
toda era histórica específica e em toda sociedade humana existe um
entendimento do significado da vida que é o mais alto alcançado
pelas pessoas daquela sociedade e que define o mais alto bem pelo
qual aquela sociedade luta. Esse entendimento é a consciência
religiosa desse tempo e dessa sociedade.
Ela
é sempre expressa por certos membros avançados da sociedade e é ou
menos ou mais vividamente sentida por todos. Essa consciência
religiosa correspondente à sua expressão existe em qualquer
sociedade. Se nos parece que não existe consciência religiosa na
sociedade, não é porque de fato não exista, mas porque, muitas
vezes, nós não queremos vê-la. Isso porque ela expõe a nossa
vida, que frequentemente não se ajusta a ela.
A
consciência religiosa de uma sociedade é a mesma coisa que o
sentido de um rio: se um rio corre, há uma direção na qual ele
corre. Se uma sociedade vive, há uma consciência religiosa que
indica a direção na qual todas as pessoas dessa sociedade mais ou
menos conscientemente se esforçam em seguir.
E,
portanto, a consciência religiosa sempre existiu e existirá em
qualquer sociedade. E os sentimentos transmitidos pela arte sempre
foram avaliados em correspondência com essa consciência. Somente
com base na consciência religiosa da época era possível separar a
arte que transmitia os sentimentos que traduziam na vida essa
consciência de toda a diversidade sem fronteiras das atividades
artísticas. Essa arte sempre foi apreciada e incentivada, mas a arte
que transmitia sentimentos oriundos da consciência religiosa de uma
época anterior — aquela retrógrada e ultrapassada — sempre foi
condenada e desprezada. O restante da arte, que transmitia a grande
variedade de sentimentos por meio dos quais as pessoas se comunicam
entre si, não era condenada, mas era permitida desde que não
propagasse sentimentos contrários à consciência religiosa. Assim,
entre os gregos, por exemplo, a arte que transmitia os sentimentos de
beleza, força e virilidade (Hesíodo, Homero, Fídias) era
escolhida, aprovada e incentivada, enquanto a que transmitia
sentimentos de sensualidade grosseira, desânimo e efeminação era
condenada e desprezada. Os judeus escolhiam e incentivavam a arte que
propagava os sentimentos de devoção e obediência ao Deus dos
judeus e seus contratos (algumas partes do Livro do Gênesis, dos
Profetas, dos Salmos) e condenavam e desprezavam a que evocava
sentimentos de idolatria (o bezerro de ouro); enquanto o restante da
arte — histórias, canções, danças, decoração de casas,
utensílios, roupas — que não era contrária à consciência
religiosa não era nem notada nem discutida. Eis como o conteúdo da
arte foi avaliado sempre em todo lugar, e é assim que ela deve ser
avaliada, pois essa atitude em relação à arte vem das propriedades
da natureza humana, as quais permanecem.
Eu
sei que, conforme uma opinião largamente difundida na nossa época,
a religião é uma superstição que a humanidade já ultrapassou, e
que portanto se supõe que não exista, na nossa época, uma
consciência religiosa comum a todos que possa servir de referência
para avaliar a arte. Sei que essa é a opinião difundida nos
círculos supostamente cultos do nosso tempo. As pessoas que não
reconhecem o cristianismo em seu verdadeiro sentido e que, portanto,
inventam vários tipos de teorias filosóficas e estéticas para si
mesmas a fim de esconder a falta de sentido e a depravação de sua
vida não podem pensar de outra maneira. Elas, às vezes sem
intenção, confundem o conceito de culto religioso com o de
consciência religiosa e pensam que, ao rejeitar o culto, estão
dessa forma rejeitando a consciência religiosa. Mas todos esses
ataques à religião e as tentativas de estabelecer uma visão de
mundo oposta à consciência religiosa da nossa época são a prova
mais óbvia da presença dessa consciência que expõe a vida
daqueles que não vivem de acordo com ela.
Se
de fato ocorre um progresso — isto é, um movimento à frente —
na humanidade, inevitavelmente deve existir um indicador da direção
desse progresso. Esse indicador sempre foi a religião. Toda a
história mostra que o progresso da humanidade não pode ser
realizado senão com a orientação da religião. E se esse progresso
não se pode dar sem isso — e ele está acontecendo sempre, o que
significa que está acontecendo também na nossa época —, então
deve haver religião na nossa época. E assim, mesmo que as pessoas
chamadas cultas não gostem disso, elas devem reconhecer a existência
de religião — não a religião de culto, católica romana,
protestante etc., mas a consciência religiosa — como guia
necessário do progresso na nossa época também. E, se existe uma
consciência religiosa entre nós, nossa arte deve ser avaliada com
base nela. Exatamente da mesma forma, como sempre e em todo lugar, a
arte que transmite sentimentos oriundos da consciência religiosa da
nossa época deveria ser separada de toda a arte indiferente, deveria
ser reconhecida, altamente apreciada e incentivada, enquanto a que é
contrária a essa consciência deveria ser condenada e desprezada, e
a arte restante não deveria ser escolhida nem incentivada.
A
consciência religiosa da nossa época, em sua aplicação mais geral
e prática, é a consciência do fato de que o nosso bem, material e
espiritual, individual e geral, temporal e eterno, consiste na vida
fraterna, em nossa união de amor uns com os outros. Essa percepção
foi expressada por Cristo e por todas as pessoas magnânimas do
passado. Mas não só: ela é repetida das mais diversas formas pelos
magnânimos de nossa época e já serve como fio condutor para todo o
complexo trabalho da humanidade, que consiste, por um lado, em
destruir os obstáculos físicos e morais que atrapalham a união
entre as pessoas e, por outro lado, em estabelecer os princípios
comuns que podem e devem unir a todos em uma fraternidade universal.
É com base nessa consciência que devemos avaliar todos os fenômenos
de nossa vida, inclusive a nossa arte, separando aquilo que transmite
sentimentos oriundos dessa consciência religiosa e valorizando e
estimulando essa arte, e ao mesmo tempo rejeitando o que é contrário
a essa consciência e não atribuindo ao restante da arte uma
importância que não lhe pertence.
O
principal engano cometido pelas classes privilegiadas no tempo da
assim chamada Renascença — um engano que ainda perpetuamos —
consistiu não em cessar de apreciar e atribuir importância à arte
religiosa (as pessoas daquela época não podiam lhe dar importância
porque, tal como a alta classe de nossos dias, não podiam acreditar
naquilo que a maioria via como religião), mas em colocar no lugar
dessa arte ausente uma arte sem valor que tinha o prazer como seu
único objetivo — isto é, eles começaram a escolher, apreciar e
incentivar como religiosa uma arte que de forma alguma merecia tal
apreciação e estímulo.
Um
dos patriarcas da Igreja disse que o principal problema do povo não
é não conhecer Deus, mas ter posto em Seu lugar algo que não é
Deus. O mesmo ocorre com a arte. O principal problema das classes
superiores da nossa época não é que não possuam arte religiosa,
mas que, no lugar de alta arte religiosa, escolhida entre tudo o mais
por ser especialmente importante e valiosa, escolheram a arte sem
valor e geralmente a mais danosa, cujo objetivo é dar prazer a
alguns — e que só por essa exclusividade já é contrária ao
princípio cristão de união universal, que constitui a consciência
religiosa da nossa época. No lugar da arte religiosa, foi
estabelecida uma arte vazia e muitas vezes depravada — e isso
esconde das pessoas a necessidade daquela arte religiosa que deveria
estar presente na vida para que esta possa se aperfeiçoar.
É
verdade que a arte que satisfaz as exigências da consciência
religiosa do nosso tempo é totalmente diferente da arte anterior,
mas apesar dessa diferença, para um homem que não esconde
deliberadamente a verdade de si mesmo, é bem claro e preciso o que
constitui a arte religiosa da nossa época. No passado, quando a
consciência religiosa mais elevada unia somente uma parte dos
grupamentos humanos, cercada de outros, ainda que fosse uma parte bem
grande — judeus, atenienses, cidadãos romanos —, os sentimentos
transmitidos pela arte vinham de um desejo de poder, grandeza, glória
e prosperidade dessas sociedades, e os heróis da arte podiam ser os
que contribuíam para essa prosperidade com sua força, perfídia,
astúcia, crueldade (Odisseus, Jacó, Davi, Sansão, Hércules e
todos os homens poderosos). A consciência religiosa do nosso tempo
não escolhe um grupamento de pessoas, mas, ao contrário, exige a
união de todas, absolutamente todas, sem exceção, e coloca o amor
fraterno acima de todas as outras virtudes, e, portanto, os
sentimentos transmitidos pela arte da nossa época não só não
podem coincidir com os sentimentos transmitidos pela arte anterior,
como também devem ser opostos a eles.
A
arte cristã, verdadeiramente cristã, não pôde se estabelecer
precisamente porque a consciência religiosa cristã não foi um
desses pequenos passos pelos quais a humanidade avança normalmente,
mas, sim, uma enorme revolução que, se ainda não mudou, está
inevitavelmente destinada a mudar toda a compreensão humana da vida
e toda a sua organização interna. É verdade que a vida da
humanidade, como a de cada homem, progride regularmente, mas no meio
desse movimento regular ocorrem pontos de virada, pode-se dizer, que
dividem nitidamente entre a vida de antes e a vida de depois. O
cristianismo foi um desses pontos de virada para a humanidade, ou
pelo menos assim deveria parecer a nós que vivemos pela consciência
cristã. Essa consciência deu uma direção nova e diferente a todos
os sentimentos humanos e, portanto, mudou completamente tanto o
conteúdo como o significado da arte. Os gregos podiam fazer uso da
arte persa, e os romanos, da arte grega, assim como os judeus fizeram
uso da arte egípcia — os ideais básicos eram os mesmos. Ora era a
grandeza e a prosperidade dos persas, ora a grandeza e prosperidade
dos gregos, ora a dos romanos. Uma mesma arte era transferida para
diferentes condições e se adequava a uma nova nação. Mas o ideal
cristão mudou e revolucionou as coisas de tal maneira que, como
dizem os Evangelhos, “o que era grande entre os homens é
abominação aos olhos de Deus”. O ideal passou a ser não a
grandeza de um faraó ou de um imperador romano, não a beleza de um
grego ou a riqueza da Fenícia, mas humildade, castidade, compaixão,
amor. O herói não era mais o homem rico, mas o mendigo Lázaro;
Maria do Egito, não na época de sua beleza, mas na de seu
arrependimento; não os conquistadores de riquezas, mas os que se
desfizeram delas; não os que viviam em palácios, mas os que viviam
em catacumbas e choupanas; não pessoas que governavam outras, mas as
que não reconheciam outro poder além de Deus. E a mais elevada obra
de arte não era um templo da vitória com estátuas dos vencedores,
mas a imagem de uma alma humana tão transformada pelo amor que um
homem torturado e assassinado pôde lamentar e amar seus
torturadores.
E,
portanto, as pessoas do mundo cristão têm dificuldade em resistir à
inércia da arte pagã com a qual cresceram e passaram a vida. O
conteúdo da arte religiosa cristã é tão novo para elas, tão
diferente do conteúdo da arte anterior, que lhes parece que a arte
cristã é uma negação da arte, então se agarram desesperadamente
à velha arte. E, no entanto, em nossa época, essa arte velha, já
não tendo a sua fonte na consciência religiosa, perdeu todo o seu
significado e devemos renunciar a ela, queiramos ou não.
A
essência da consciência cristã consiste em que cada homem
reconheça sua condição de filho de Deus e sua consequente união a
Ele e aos outros homens, como é dito no Evangelho. E, portanto, o
conteúdo da arte cristã são os sentimentos que contribuem para a
união dos homens com Deus e entre si.
A
expressão a união dos homens com Deus e com seus semelhantes
pode parecer vaga às pessoas acostumadas a ouvir essas palavras
tantas vezes corrompidas. Porém, elas têm um significado muito
claro: a união cristã entre os homens, ao contrário da união
parcial e exclusiva de alguns, une a todos sem exceção.
A
arte, qualquer que seja, tem em si a propriedade de unir as pessoas.
Toda arte faz com que aqueles que captam o sentimento transmitido
pelo artista se unam em espírito, primeiro com o artista e depois
com todos os que receberam a mesma impressão. Mas a arte não
cristã, ao unir certas pessoas, com isso as separa de outras, de
forma que essa união parcial serve como fonte não apenas de
desunião, mas até de hostilidade. Assim é toda a arte patriótica,
com seus hinos, poemas e monumentos. Assim é toda a arte da Igreja —
isto é, a arte de cultos distintos, com seus ícones, imagens,
procissões, cerimônias, igrejas. Assim é a arte militar e, enfim,
assim é toda a arte refinada, essencialmente depravada, acessível
somente a pessoas que oprimem outras e pertencem às classes ricas e
ociosas. Essa arte é retrógrada, não cristã, ao unir algumas
pessoas somente para separá-las ainda mais e até mesmo colocá-las
em atitude de hostilidade contra outras. A arte cristã é a que une
todas as pessoas sem exceção — seja por evocar nelas a percepção
de que estão todas na mesma posição com relação a Deus e ao seu
próximo, seja por evocar nelas um único e mesmo sentimento, mesmo o
mais simples, que não seja contrário ao cristianismo e seja
adequado a todos sem exceção.
A
boa arte cristã da nossa época pode não ser entendida por todos
devido a erros formais ou à falta de atenção, mas ela deve ser tal
que todos possam vivenciar os sentimentos que estão sendo
transmitidos. Ela deve ser a arte não de um certo círculo, não de
uma classe, uma nacionalidade, uma religião — isto é, não deve
transmitir sentimentos a que tenha acesso somente uma pessoa criada
de uma certa maneira, um aristocrata, um comerciante, ou um russo, um
japonês, ou um católico, um budista etc. —, mas sentimentos a que
qualquer homem tenha acesso. Somente uma arte assim pode ser
considerada boa em nossa época, pode ser escolhida entre as demais e
incentivada.
A
arte cristã, que é a arte da nossa época, deve ser católica no
sentido direto da palavra — ou seja, universal — e deve,
portanto, unir todas as pessoas. E só existem dois tipos de
sentimento que unem a todos: aqueles que vêm da consciência de que
todos são filhos de Deus e existe irmandade entre os homens e os
sentimentos do cotidiano, do tipo mais simples, a que todas as
pessoas, sem exceção, têm acesso, como os de festejo, ternura,
alegria, tranquilidade, e assim por diante. Somente essas duas
espécies de sentimento constituem, em nossa época, a matéria da
arte que é boa em seu conteúdo.
O
efeito produzido por esses dois tipos de arte aparentemente tão
diferentes é exatamente o mesmo. Os sentimentos que vêm da
consciência de sermos filhos de Deus e irmãos dos homens, ou seja,
da consciência religiosa cristã, tais como firmeza na verdade,
confiança na vontade de Deus, autonegação, respeito e amor pelo
homem; e os sentimentos mais simples — ficar emocionado ou alegre
com uma canção, ou uma brincadeira divertida que todos podem
entender, ou uma história tocante, ou um desenho, ou uma boneca —
produzem um só efeito: a união amorosa entre as pessoas. Pode
acontecer em algumas ocasiões que as pessoas reunidas, embora não
apresentem hostilidade, estejam alheias umas às outras. De repente
uma história, uma apresentação, um quadro, mesmo um prédio ou,
com maior frequência, uma música, une a todos com uma fagulha
elétrica e, em lugar de seu distanciamento anterior, todos sentem
união e amor mútuo. Cada um fica feliz porque o outro sente a mesma
coisa que ele, feliz com essa comunhão que foi estabelecida, não
somente entre ele e os outros presentes, mas com todas as pessoas
vivas que receberão a mesma impressão. Mais ainda: há a misteriosa
alegria de uma comunhão além-túmulo, com todos no passado que
viveram o mesmo sentimento e os que no futuro o viverão. Esse efeito
é causado igualmente tanto pela arte que transmite os sentimentos de
amor a Deus e ao próximo como pela arte comum que transmite os
sentimentos mais simples e comuns a todas as pessoas.
A
diferença entre avaliar a arte de nossa época e a de épocas
anteriores consiste, acima de tudo, em que a arte de hoje — isto é,
a arte cristã —, por ser baseada em uma consciência religiosa que
pede a união das pessoas, exclui da esfera da arte de bom conteúdo
tudo o que transmite sentimentos exclusivos, que separam as pessoas
ao invés de uni-las, e considera tal arte como de mau conteúdo,
enquanto, por sua vez, inclui na categoria de arte de bom conteúdo
uma área que até aqui não era considerada digna de ser escolhida e
respeitada: a arte universal, que transmite sentimentos mais simples
e insignificantes, mas acessíveis a todas as pessoas sem exceção e
que, portanto, as unem.
Uma
arte assim não pode deixar de ser reconhecida como boa em nossa
época, porque atinge exatamente o objetivo que a consciência
religiosa cristã coloca diante da humanidade hoje.
A
arte cristã evoca nas pessoas os sentimentos que, por meio do amor a
Deus e ao próximo, as leva a uma união cada vez maior e as torna
prontas e capazes para tal união, ou então evoca sentimentos que
mostram que elas já estão unidas na igualdade das alegrias e
tristezas da vida. Assim, a arte cristã de nossa época pode ser
definida em dois tipos: (1) arte religiosa, que transmite sentimentos
oriundos de uma consciência religiosa da posição do homem no
mundo, com relação a Deus e a seu próximo; e (2) arte universal,
que transmite os sentimentos cotidianos e simples da vida, da forma
como são acessíveis a todas as pessoas do mundo. Somente esses dois
tipos de arte podem ser considerados bons hoje.
O
primeiro, a arte religiosa, que transmite sentimentos positivos (amor
a Deus e ao próximo) assim como negativos (indignação, horror face
à violação desse amor), manifesta-se principalmente na forma
verbal e, parcialmente, na pintura e na escultura; o segundo, a arte
universal, que transmite sentimentos acessíveis a todos,
manifesta-se em palavras, pintura, escultura, dança, arquitetura e,
principalmente, na música.
Se
me pedissem que apontasse exemplos de cada um desses tipos na arte
moderna, como exemplos da mais elevada arte religiosa oriunda do amor
a Deus e ao próximo, eu apontaria, na literatura, Os bandoleiros,
de Schiller; e entre as obras mais recentes, Pobre gente, de
Dostoiévski, e Os miseráveis, de Victor Hugo; os contos,
histórias e romances de Dickens — História de duas cidades, Os
carrilhões e outras; A cabana do pai Tomás; Dostoiévski,
principalmente com seu Recordações da casa dos mortos; Adam
Bede, de George Eliot.
[…]
Leon Tolstói, in O que é arte?
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