Dürer
Estas
coisas desprenderam-se do sol, como os homens e as mulheres que as
fizeram e a distante terra que pisam.
São
capacetes e cintos, leques de plumas, vestidos, mantas, armas de
caça, um sol de ouro e uma lua de prata e zarabatanas e outras armas
de tanta formosura que parecem feitas para ressuscitar suas vítimas.
O
melhor desenhista de todos os tempos não se cansa de olhar. Esta é
uma parte da presa de guerra que Cortez arrancou de Montezuma: as
únicas peças que não foram fundidas em lingotes. O rei Carlos,
recém-sentado no trono do Sagrado Império, exibe ao público os
troféus de seus novos pedaços do mundo.
Albert
Dürer não conhece o poema mexicano que explica que o verdadeiro
artista encontra prazer em seu trabalho e que dialoga com seu coração
porque não tem o coração morto e comido pelas formigas. Mas vendo
o que vê, Dürer escuta essas palavras e descobre que está vivendo
a maior alegria de seu meio século de vida.
Eduardo Galeano, in Os Nascimentos
Nenhum comentário:
Postar um comentário