sexta-feira, 27 de outubro de 2023

1520 – Bruxelas

Dürer

Estas coisas desprenderam-se do sol, como os homens e as mulheres que as fizeram e a distante terra que pisam.
São capacetes e cintos, leques de plumas, vestidos, mantas, armas de caça, um sol de ouro e uma lua de prata e zarabatanas e outras armas de tanta formosura que parecem feitas para ressuscitar suas vítimas.
O melhor desenhista de todos os tempos não se cansa de olhar. Esta é uma parte da presa de guerra que Cortez arrancou de Montezuma: as únicas peças que não foram fundidas em lingotes. O rei Carlos, recém-sentado no trono do Sagrado Império, exibe ao público os troféus de seus novos pedaços do mundo.
Albert Dürer não conhece o poema mexicano que explica que o verdadeiro artista encontra prazer em seu trabalho e que dialoga com seu coração porque não tem o coração morto e comido pelas formigas. Mas vendo o que vê, Dürer escuta essas palavras e descobre que está vivendo a maior alegria de seu meio século de vida.

Eduardo Galeano, in Os Nascimentos

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