quinta-feira, 7 de setembro de 2023

Sinal vermelho

Em certos trechos da cidade, a sinaleira do tráfego não é automática, mas humana, isto é, há um homem a distribuir a seu bel-prazer os verdes e os vermelhos. Mas eis que aquele homem de profissão humilde dá preferência aos que possuem automóvel — e que exatamente por andarem mais depressa, podem esperar um pouco mais —, de modo que nós, os pedestres como ele, temos de aguardar um tempo enorme até que se nos abra o sinal verde. E às vezes ao frio, ao vento, à chuva. Concluirei daí que a máquina é mais humana do que o homem? Não, ele é que é humano mesmo. E quem foi que falou em puxa-saquismo? O que se pode concluir, com justeza, é que a máquina é mais democrática.

Mário Quintana, in Caderno H

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