— Esta
ponte está podre,
não
passa de janeiro.
Ou
cai agora ou não me chamo
Flordualdo.
— Esta
ponte cair? Meu avô foi quem fez.
Ninguém
vivo, atual, dura mais do que ela.
Esta
ponte é de Deus,
é
Deus quem toma conta
da
madeira e dos ferros,
eterno,
tudo eterno.
— Pois
eu digo que sim.
Repare
nos buracos.
Você
passa e ela treme
de
velhice. O caruncho
alastrado
nas vigas.
Esta
ponte é o diabo,
ela
está condenada
só
você que não sabe.
— Alto
lá.
Esta
ponte é sagrada.
É
ponte de família
que
meu pai ajudou
a
tirar da cabeça
e
a dominar as águas.
Ela
há de viver
nos
séculos dos séculos
contra
caruncho e raio,
dinamite
e praga.
E,
pra encurtar conversa,
eu
Mateus te afianço:
antes
que a ponte caia,
você
cairá da ponte
com
esta bala certeira:
toma.
Carlos Drummond de Andrade, in Boitempo – Esquecer para lembrar
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