O
Brasil fervia em 1984, assolado por uma crise econômica sem
precedentes, mas empolgado com a perspectiva do fim da ditadura. A
campanha das Diretas Já arrebatava o país unindo políticos,
artistas e intelectuais no mesmo palco e arrastando multidões às
praças. Havia muita esperança no ar com o sonhado fim da ditadura e
o exercício da plena liberdade criativa, em que o civismo se
misturava ao romantismo, como em “Fullgás”.
Esse
também foi um ano de vigorosa produção musical. Do já comentado
hino sarcástico das Diretas “Inútil” a canções políticas
agressivas como “Podres poderes”, de Caetano Veloso, passando por
belas baladas românticas como “Fogueira”, de Angela Ro Ro, e “Me
chama”, de Lobão. Abraçando esses extremos estava outro sucesso
que permaneceu, “Fullgás”, da carioca Marina Lima e seu irmão,
o poeta e filósofo Antonio Cícero. É um rock leve e elegante, com
tempero jazzístico, que integra o sabor brasileiro ao pop
internacional, funde o político ao amoroso e expressa o momento de
esperança do Brasil. Seu verso de encerramento fez história, unindo
o sentimento coletivo e o individual: “Você me abre seus braços /
e a gente faz um país.”
Com
o neologismo “Fullgás”, Marina e Cícero integram os sentidos de
“a todo vapor” e da fugacidade do tempo e dos sentimentos. A
canção deu nome e foi o grande sucesso do quinto disco da cantora e
compositora, estabelecendo-a como autora de grande personalidade e
estilo, como voz das mulheres de sua geração. Após cinco anos de
carreira, o pop melodioso, o fraseado musical fluente e elegante, as
letras sonoras e elaboradas de Antonio Cícero e uma atmosfera
sensual criada pelos arranjos sofisticados e pela voz quente de
Marina conquistavam o grande público.
Nelson Motta, 101 canções que tocaram o Brasil
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