Ilustre,
e reverendo Frei Lourenço,
Quem
vos disse, que um burro tão imenso,
Siso
em agraz, miolos de pateta
Pode
meter-se em réstia de poeta?
Quem
vos disse, magano,
Que
fará verso bom um Franciscano?
Cuidais,
que um tonto revestido em saco
O
mesmo é ser poeta, que velhaco?
Seres
mestre vós na velhacaria
Vos
vem por reta via
De
trajar de burel essa libreia,
E
o ser poeta nasce de outra veia;
Não
entreis em Aganipe mais na barca,
Porque
nela co’a mesma vossa alparca
Apolo
tem mandado,
Que
vos espanquem por desaforado.
Não
sabeis, Reverendo Mariola,
Remendado
de frade em salvajola,
Que
cada gota, que o meu sangue pesa,
Vos
poderá a quintais vender nobreza?
Falais
em qualidade,
Tendo
nessas artérias quantidade
De
sangue vil, humor meretricano,
Pois
nascestes de sêmen franciscano,
E
sobre vossa Mãe em tempos francos
Caíram
mil tamancos,
De
sorte que não soube a sua pele,
Se
vos fundiu mais este, do que aquele:
E
nem vós, Frei Monturo, ou Frade Cisco,
Sabeis
se filho sois de São Francisco,
Porque
sois, vos prometo,
Filho
do Santo não, porém seu neto.
Quem
vos meteu a vós, vilão de chapa
A
tomares as dores do meu mapa,
Se
no mapa, que fiz não se esquadrinha
Linha
tão má, como é a vossa linha?
Mas
como comeis alhos,
Vos
queimais, sem chegares aos burralhos;
E
se acaso vos toca a putaria,
Que
ali pintou a minha fantesia,
Não
vos canseis em defender as putas,
Pois
sendo dissolutas,
Não
vos querem soldado aventureiro,
Querem,
que lhe acudais com bem dinheiro;
E
querem pelo menos, Frei Bolório,
Que
os sobejos lhe deis do refectório,
Que
as dádivas de um Frade
sobejos
são da leiga caridade.
E
se acaso esforçastes a ousadia
À
vista de uma larga companhia,
Ides,
Frei Maganão, muito enganado,
Que
o capitão pretérito é passado:
Não
é cousa possível,
Que
vos livre de trago tão terrível;
Tornai
em vós, Frei Burro, ou Frei Cavalo,
Que
cair sobre vós pode o badalo
De
algum celeste signo, que vos abra,
E
sem dizer palavra
Vos
leve em corpo, e alma algum demônio
Por
mau imitador de Santo Antônio;
Confessai
vossas culpas, Frei Monturo,
Que
anda a morte de ronda pelo muro,
E
se na esfera vos topar a puta,
Vos
heis de achar no inferno a pata enxuta.
Gregório de Matos, in Antologia Poética
Nenhum comentário:
Postar um comentário