Ontem
à noite, ditou seu último testamento. Esta manhã perguntou se
tinha chegado o mensageiro do rei. Depois, dormiu. Ouviram-no
proferir disparates e murmúrios de queixa. Ainda respira, mas
respira bronco, como se lutasse contra o ar.
Na
Corte, ninguém escutou suas súplicas. Da terceira viagem tinha
regressado preso, amarrado com correntes, e na quarta viagem não
houvera quem fizesse caso de seus títulos e dignidades.
Cristóvão
Colombo vai embora sabendo que não há paixão ou glória que não
conduza à pena. Não sabe, em compensação, que poucos anos faltam
para que o estandarte que ele cravou, pela primeira vez, nas areias
do Caribe, ondule sobre o império dos astecas, em terras ainda
desconhecidas, e sobre o reino dos incas, sob os desconhecidos céus
do Cruzeiro do Sul. Não sabe que ficou curto em suas mentiras,
promessas e delírios. O Almirante-Mor do Mar Oceano continua
acreditando que chegou à Ásia pelas costas.
Não
se chamará o oceano mar de Colombo. Tampouco levará seu nome o novo
mundo, e sim o nome de seu amigo, o florentino Américo Vespúcio,
navegante e mestre de pilotos. Mas foi Colombo quem encontrou essa
deslumbrante cor que não existia no arco-íris europeu. Ele, cego,
morre sem vê-la.
Eduardo Galeano, in Os Nascimentos
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