Todos
nasceram velhos — desconfio.
Em
casas mais velhas que a velhice,
em
ruas que existiram sempre — sempre! —
assim
como estão hoje
e
não deixarão nunca de estar:
soturnas
e paradas e indeléveis
mesmo
no desmoronar do Juízo Final.
Os
mais velhos têm 100, 200 anos
e
lá se perde a conta.
Os
mais novos dos novos,
não
menos de 50 — enorm’idade.
Nenhum
olha para mim.
A
velhice o proíbe. Quem autorizou
existirem
meninos neste largo municipal?
Quem
infringiu a lei da eternidade
que
não permite recomeçar a vida?
Ignoram-me.
Não sou. Tenho vontade
de
ser também um velho desde sempre.
Assim
conversarão
comigo
sobre coisas
seladas
em cofre de subentendidos
a
conversa infindável
de
monossílabos, resmungos,
tosse
conclusiva.
Nem
me veem passar. Não me dão confiança.
Confiança!
Confiança!
Dádiva
impensável
nos
semblantes fechados,
nas
felpudas redingotes,
nos
chapéus autoritários,
nas
barbas de milênios.
Sigo,
seco e só, atravessando
a
floresta de velhos.
Carlos Drummond de Andrade, in Boitempo – Esquecer para lembrar
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