sexta-feira, 30 de junho de 2023

O amanhã | João Sérgio e Didi, 1978


Na época em que este arrebatador samba-enredo foi apresentado na avenida, no carnaval de 1978, pela União da Ilha do Governador, o gênero já vivia sob o ataque de críticos, que reclamavam da descaracterização, do ritmo acelerado e da vulgaridade dos refrões levanta-povo.
O amanhã”, porém, mostrou que o samba-enredo tinha mudado, mas atingia um de seus pontos mais altos. Não só nos desfiles e muito além daquele carnaval. Puxado na avenida por Aroldo Melodia e também gravado por Elizeth Cardoso, estourou no Brasil inteiro quatro anos depois. Regravado por Simone no álbum Delírio e delícias, ganhou as rádios, virando um dos maiores sucessos da cantora baiana.
Fundada em 1953, a União da Ilha ascendeu ao grupo especial em 1975 e passou a competir com as tradicionais Portela, Mangueira, Salgueiro e Império Serrano. Seu ponto forte eram os enredos inusitados e os sambas empolgantes, criados por um advogado e procurador federal, Gustavo Adolfo de Carvalho Baeta Neves, que se escondia sob o pseudônimo de Didi por pressão da família tradicional, contrária ao seu envolvimento com o mundo do samba. Gustavo chegou a abrir mão da autoria de alguns sambas, que foram atribuídos a outros compositores, como “O amanhã”, assinado apenas pelo parceiro João Sérgio.
Mas, como contam os escritores Luiz Antonio Simas e Alberto Mussa, sobrinho do compositor, no livro Samba de enredo: história e arte (2010), “O amanhã” é um dos clássicos de Didi, incluindo a riqueza melódica e a cadência das palavras que marcavam seu estilo.
Até morrer, em 1987, aos 52 anos, de cirrose, o sambista-advogado venceu 24 disputas em escolas, sendo 16 na União da Ilha, quatro no Salgueiro e quatro no Bloco do Boi da Freguesia. Em 1991 foi homenageado pela União da Ilha com o enredo De bar em bar, Didi um poeta.
Além de “O amanhã”, Didi é autor de outro grande sucesso que prosseguiu muito além da avenida, “É hoje” (parceria com Mestrinho), popularizada por Caetano Veloso e Fernanda Abreu, um clássico que poderia se alternar com “O amanhã” nesta lista.

Nelson Motta, in 101 canções que tocaram o Brasil

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