Depois
da política “Como dois e dois” e da sentimental “Muito
romântico”, a autorreferente e mística “Força estranha” é a
última da trilogia de canções que Caetano Veloso dedicou a Roberto
Carlos e foi lançada no seu álbum de 1978.
Os
dois se aproximaram depois da visita que Roberto fez a Caetano em seu
exílio londrino, em 1970, e, de volta ao Brasil, escreveu com Erasmo
a balada “Nos caracóis dos teus cabelos” como uma homenagem
cifrada a Caetano, que tinha sua prisão e seu nome proibidos nos
jornais. Os cabelos encaracolados que driblaram a Censura, como foi
revelado tempos depois, não eram de uma moça, mas do seu amigo
exilado.
A
inspiração para “Força estranha” veio depois de um encontro
casual dos dois nos corredores da TV Globo. Após os abraços e
elogios recíprocos sobre a boa forma de ambos, Roberto, então com
37 anos, comentou: “É, bicho, artista nunca envelhece.” Caetano
ficou com a frase na cabeça e a partir dela, pensando na voz e no
estilo de Roberto, escreveu “Força estranha” como um tributo à
sua arte, à vida de grandes artistas e a estranha força que os
move.
“Eu
vi muitos cabelos brancos na fronte do artista / o tempo não para e,
no entanto, ele nunca envelhece.”
É
uma bela balada com um tempero de blues, com um refrão poderoso,
feita sob medida para o artista cantar a força de sua própria voz,
envolvida pelo misticismo tão caro a Roberto. Na sua gravação,
Roberto acrescentou “no ar” depois de “por isso essa força
estranha” e Caetano adorou, incorporando as duas notas-palavras à
música.
Mesmo
tendo sido um dos maiores sucessos daquele disco, ao lado da balada
de motel “Café da manhã”, já no ano seguinte Gal Costa gravou
uma nova versão, que foi incluída na trilha da novela Os
gigantes e também no álbum Gal Tropical, e repetiu o
sucesso nas rádios. A música também parecia ter sido feita para
ela.
“Por
isso uma força me leva a cantar / Por isso essa força estranha /
Por isso é que eu canto, não posso parar / Por isso essa voz
tamanha.”
Durante
a década de 1970, já consolidado como o cantor mais popular do
Brasil, Roberto amadurecia e avançava além da Jovem Guarda, vivendo
esse breve flerte com a MPB, quando gravou canções de Djavan (a
bela e estranha “A ilha”, em 1980) e de Fagner & Belchior
(“Mucuripe”, em 1975).
Nelson Motta, in 101 canções que tocaram o Brasil
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