[…]
Aquele lugar era tão próximo da perfeição que não dava vontade
nem de dizer a nós mesmos que sorte fora parar lá. Os melhores
lugares novos tinham de ser protegidos de nossos próprios gritos de
prazer. Guardaríamos as palavras por semanas ou meses, até um fim
de tarde suave em que um comentário qualquer nos faria relembrar.
Creio que acreditávamos, juntos, que uma voz errada é capaz de
obliterar uma paisagem. Esse sentimento era ele próprio tácito, e
era uma das fontes de nossa união.
Abri
os olhos e vi nuvens impelidas pelo vento — nuvens de vento em popa
— e uma única fragata pendurada numa corrente de ar, as asas
longas planas e imóveis. O mundo e todas as coisas nele contidas. Eu
não era bobo de achar que estava vivendo algum momento primevo. Era
um produto moderno, aquele hotel, planejado para dar às pessoas a
sensação de que elas haviam deixado para trás a civilização. Mas
se eu não era ingênuo, também não sentia vontade de alimentar
dúvidas sobre aquele lugar. Tínhamos vivido meio dia de
frustrações, longas idas e vindas num carro, e o toque refrescante
da água doce em meu corpo, e a ave a sobrevoar o oceano, e a
velocidade daquelas nuvens baixas, aqueles imensos píncaros a
desabar, e a sensação de flutuar sem peso, girando lentamente na
piscina, como uma espécie de êxtase com controle remoto, tudo isso
me fazia sentir que eu sabia o que era estar no mundo. Uma coisa
especial, sim. O sonho da Criação que brilha no limite da busca de
quem viaja a sério. Nu. Faltava apenas que Jill atravessasse as
cortinas diáfanas e em silêncio entrasse na piscina.
[…]
Don DeLillo, in O Anjo Esmeralda
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