Posso
não saber em que parte do inferno Dante arrojou os pretensiosos, mas
aposto que eles vieram de um lugar pequeno e sujo, de uma cidade que
não tem a luz das noites cariocas.
Noites
cariocas... Na saída do Lamas, Zeca interpretando “La Barca” no
rádio da patrulhinha e o PM aplaudindo. Maurício Tapajós matando
baratas no fusca, na volta da casa da Elis, e perguntando: você
também tá vendo ou sou só eu? Miguilho, depois de uma briga com
pára-quedistas, dando saltos ornamentais de cima de um muro: perna
quebrada e passadinha no PS do Andaraí, onde tu entra cajá e sai
caqui.
Noites
cariocas. O vício da madrugada. Vocação pra padeiro. Entrar de
costas, pra vizinhaça pensar que eu tô saindo cedo. Ou trazer o
leite, numa espécie de reconciliação com a realidade. Essas
convenções tijucanas.
Noites
cariocas. Na saída do Caras e Bocas a moça morena capota e morre.
Meu pessoal continua biritando firme pelas noites do Rio, mas é
contrato de risco: não somos mais imortais.
Noites
cariocas. Chiquinho Botelho e eu, após tumulto no Calígula, 48
horas no ar. Chiquinho passa mal. Um médico no telefone. Descrição
do quadro clínico. Impressionado, o esculápio pergunta pra mulher
do Chiquinho:
– Ele
está inteiramente impossibilitado de locomover-se?
– Mais
ou menos...
– Como
assim, minha senhora?
– Bom,
mover-se ele não pode, mas continua um bocado loco.
Aldir Blanc, in Brasil passado a sujo
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