Começo
a arrepender-me deste livro. Não que ele me canse; eu não tenho que
fazer; e, realmente, expedir alguns magros capítulos para esse mundo
sempre é tarefa que distrai um pouco da eternidade. Mas o livro é
enfadonho, cheira a sepulcro, traz certa contração cadavérica;
vício grave, e aliás ínfimo, porque o maior defeito deste livro és
tu, leitor. Tu tens pressa de envelhecer, e o livro anda devagar; tu
amas a narração direita e nutrida, o estilo regular e fluente, e
este livro e o meu estilo são como os ébrios, guinam à direita e à
esquerda, andam e param, resmungam, urram, gargalham, ameaçam o céu,
escorregam e caem…
E
caem! – Folhas misérrimas do meu cipreste, heis de cair, como
quaisquer outras belas e vistosas; e, se eu tivesse olhos, dar-vos-ia
uma lágrima de saudade. Esta é a grande vantagem da morte, que, se
não deixa boca para rir, também não deixa olhos para chorar...
Heis de cair. Turvo é o ar que respirais, amadas folhas. O sol que
vos alumia, com ser de toda gente, é um sol opaco e reles, de
cemitério e carnaval.
Machado de Assis, in Memórias Póstumas de Brás Cubas
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