Com
fluidez, lirismo sintético e uso perfeito do idioma culto, a letra
deste samba está à altura de qualquer mestre da poesia parnasiana.
Sim, o estilo nascido no fim do século XIX na França, e que teve
tantos adeptos no Brasil até a revolução estética da Semana de
Arte Moderna, em 1922, estava entre as referências de Cartola, o
genial sambista que teve direito a uma segunda grande chance na vida.
“As
rosas não falam”, um samba lento em clima de choro, lançado em
disco por Beth Carvalho, em julho de 1976 e logo em seguida também
gravado pelo compositor, é fruto dessa volta por cima do sambista da
Mangueira.
Depois
de um início promissor entre os bambas do samba nos anos 1930 e
1940, Cartola sumiu por mais de uma década, foi dado como morto. Até
1956, quando o jornalista Sérgio Porto encontrou-o lavando carros
numa rua de Botafogo e levou suas músicas a cantores e produtores,
trazendo-o de volta ao sucesso com a gravação de Nara Leão de “O
sol nascerá”.
No
início dos anos 1960, comandou com a mulher Zica o restaurante e
casa de samba Zicartola, na rua da Carioca, que se tornou um templo
do melhor samba do Rio, para cair mais uma vez no esquecimento. Mas
voltou na década seguinte com um baú cheio de novas e
surpreendentes músicas, com um grau de acabamento e sofisticação
ainda maior do que seus primeiros sucessos. Gravado por Paulinho da
Viola, Beth Carvalho e Clara Nunes, Cartola também gravou na
independente Marcus Pereira (1974) seu primoroso primeiro álbum
solo, com pérolas como a confessional “Tive sim” e a canção de
despedida “Acontece”.
Dois
anos depois, gravou um segundo disco em que, além de “As rosas não
falam”, se destacam “O mundo é um moinho”, “Sala de
recepção”, “Peito vazio”, “Cordas de aço” e “Ensaboa”,
regravada com sucesso por Marisa Monte em clima de afropop em 1990.
Nelson Motta, in 101 canções que tocaram o Brasil
Nenhum comentário:
Postar um comentário