Na
Itália il miracolo é de pesca noturna. Mortalmente ferido
pelo arpão, larga no mar sua tinta roxa. Quem o pesca, desembarca
antes de o sol nascer – sabendo com o rosto lívido e responsável
que arrasta pelas areias o enorme peso da pesca milagrosa: il
miracolo amore.
Milagre
é lágrima caindo na folha, treme, desliza, tomba: eis milhares de
milágrimas brilhando na relva.
The
miracle tem duras pontas de estrela e muita prata farpada.
Le
miracle é um octógono de cristal que se pode girar lentamente
na palma da mão. Ele está na mão, mas é de se olhar. Pode-se
vê-lo de todos os lados, bem devagar, e de cada lado é o octógono
de cristal. Até que de repente – arriscando o corpo e já toda
pálida de sentido – a pessoa entende: na própria mão aberta não
está um octógono mas le miracle. A partir desse instante não
se vê mais nada: tem-se.
Para
passar de uma palavra física ao seu significado, antes destrói-se-a
em estilhaços, assim como o fogo de artifício é um objeto opaco
até ser, no seu destino, um fulgor no ar e a própria morte. Na
passagem de simples corpo a sentido de amor, o zangão tem o mesmo
atingimento supremo: ele morre.
Clarice Lispector, in Todas as crônicas
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