Pense
na energia que você gasta com a posse de um único bem: planejando a
compra, lendo críticas sobre ele, procurando o melhor preço,
ganhando (ou tomando emprestado) o dinheiro para comprá-lo, indo à
loja para fazer a aquisição, transportando-o até sua casa,
encontrando um lugar para colocá-lo, aprendendo a usá-lo,
limpando-o (ou limpando em volta dele), fazendo a manutenção,
comprando peças extras, pondo-o no seguro, protegendo-o, tentando
não quebrá-lo, consertando-o quando ele quebra e, às vezes,
pagando as prestações mesmo depois de ter se desfeito dele. Agora
multiplique isso pela quantidade de objetos que há na sua casa.
Puxa! É realmente exaustivo!
Proteger
todas as suas posses pode ser um trabalho em tempo integral. Tanto é
que indústrias inteiras surgiram para nos ajudar a manter as coisas
em ordem. Empresas giram fortunas nos vendendo produtos de limpeza
especializados para cada item — detergentes para roupas,
lustradores para talheres, ceras para móveis, sprays de ar
comprimido para aparelhos eletrônicos e amaciantes para couro. O
ramo dos seguros prospera com a possibilidade de que nossos carros,
joias ou obras de arte possam ser danificados ou furtados. Chaveiros,
empresas de alarme e fábricas de cofres prometem proteger as coisas
de roubo. Técnicos estão à disposição para consertá-las quando
quebram e caminhões de mudança estão prontos para juntá-las e
levar tudo para outro lugar.
Com
o tempo, o dinheiro e a energia que elas demandam, temos a sensação
de que nossas coisas nos possuem — e não o contrário.
Vamos
olhar mais de perto para quanto do nosso estresse pode ser atribuído
aos objetos. Em primeiro lugar, nos estressamos por não
ter
coisas. Podemos ver algo na loja ou num anúncio e, de repente,
imaginar como pudemos viver até agora sem aquilo. Nosso vizinho o
tem, nossa irmã acabou de ganhá-lo de presente e nosso colega de
trabalho o comprou na semana passada; ai, meu Deus, somos os únicos
no mundo sem um? Começa a surgir um sentimento de privação…
Depois,
nos estressamos com a aquisição da coisa. Infelizmente, não
conhecemos ninguém que vá nos dar aquilo de graça, portanto
teremos de comprá-la. Vamos de loja em loja (ou de site em site)
para checar os preços e desejar que esteja em liquidação. Sabemos
que não temos dinheiro para a compra naquele momento, mas queremos
tê-la agora. Assim, juntamos o nosso parco dinheirinho, fazemos hora
extra no trabalho ou passamos o cartão de crédito e torcemos para
conseguir pagar as prestações depois.
Chega
o glorioso dia em que finalmente compramos aquilo. Enfim ele é
nosso! O sol brilha, os pássaros cantam e todo o estresse vai
embora. É mesmo? Pense de novo. Agora que gastamos um bom dinheiro
com a coisa, vamos ter de cuidar bem dela. Adquirimos não apenas um
bem, mas também o peso de uma responsabilidade.
Precisamos
tomar o cuidado de limpá-lo regularmente, já que o pó e a sujeira
podem prejudicar seu funcionamento e diminuir sua vida útil.
Precisamos mantê-lo longe do alcance das crianças e dos animais de
estimação para que eles não o quebrem, destruam ou manchem. Parece
loucura? Quantas vezes você já estacionou um carro novo no canto
mais isolado de um estacionamento ou teve o dia arruinado ao
descobrir um arranhão ou amassado novo? Como você se sentiu quando
derramou molho de tomate em uma blusa cara de seda?
Nessa
hora, quando algo dá errado — como sempre acontece —, nos
estressamos por causa do conserto. Examinamos com cuidado o manual ou
pesquisamos orientações na internet. Saímos para comprar as
ferramentas ou as peças substitutas apropriadas para o conserto.
Quando não conseguimos, levamos o objeto até a oficina. Ou adiamos
porque não sabemos como (ou não queremos) lidar com aquilo. Ele
fica esquecido no canto, em um armário ou na despensa, pesando em
nossa consciência. Ou então nós nem o quebramos, só nos cansamos
dele. Qualquer que seja o caso, sentimos culpa e ficamos nervosos
depois de gastar tanto tempo e dinheiro. E então vemos outro anúncio
e ficamos encantados por outra coisa completamente diferente, que é
ainda mais interessante do que a última. Ah, não, lá vamos nós de
novo…
Temos
a impressão de que o dia nunca rende o suficiente — e talvez a
culpa seja de nossas coisas. Quantas preciosas horas passamos usando
lavadoras a seco, quantos sábados foram sacrificados para trocas de
óleo e consertos de carro, quantos dias de folga foram desperdiçados
consertando ou fazendo a manutenção de coisas (ou esperando a
chegada do técnico)? Com que frequência nos angustiamos (ou damos
bronca nos filhos) por causa de um vaso quebrado, um prato lascado ou
manchas de lama no tapete da sala? Quanto tempo não gastamos
comprando lavadoras, peças e acessórios para as coisas que já
temos?
Pare
um pouco e relembre os tempos felizes e despreocupados da faculdade.
Não é mera coincidência que essa tenha sido a época em que
tivemos a menor quantidade de coisas. A vida era muito mais simples:
sem hipoteca, sem prestações do carro, sem seguro da lancha.
Aprender, viver e se divertir era muito mais importante do que nossas
posses. O mundo era pacífico e tudo era possível! Ora, é essa
alegria que podemos recuperar como minimalistas. Precisamos apenas
pôr nossas coisas no devido lugar para que elas não exijam uma
parcela homérica de nossa atenção.
Isso
não significa que precisamos alugar quitinetes ou mobiliar tudo com
caixotes de feira e sofás de segunda mão. Em vez disso, por
enquanto, vamos imaginar que temos metade da quantidade atual de
coisas. Nossa, já seria um alívio enorme! São 50% a menos de
trabalho e preocupação! Cinquenta por cento a menos de limpeza,
manutenção e consertos! Cinquenta por cento a menos de dívidas no
cartão de crédito! O que vamos fazer com todo esse tempo e dinheiro
extras? Ah, você já teve uma ideia, não é? Estamos começando a
enxergar a beleza de sermos minimalistas.
Francine Jay, in Menos é mais: Um guia minimalista para organizar e simplificar sua vida
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