Ali
não havia eletricidade.
Por
isso foi à luz de uma vela mortiça
Que
li, inserto na cama,
O
que estava à mão para ler —
A
Bíblia, em português (coisa curiosa), feita para protestantes.
E
reli a “Primeira Epístola aos Coríntios”.
Em
torno de mim o sossego excessivo de noite de provincial
Fazia
um grande barulho ao contrário,
Dava-me
uma tendência do choro para a desolação.
A
“Primeira Epístola aos Coríntios” …
Relia-a
à luz de uma vela subitamente antiquíssima,
E
um grande mar de emoção ouvia-se dentro de mim…
Sou
nada…
Sou
uma ficção…
Que
ando eu a querer de mim ou de tudo neste mundo?
“Se
eu não tivesse a caridade.”
E
a soberana luz manda, e do alto dos séculos,
A
grande mensagem com que a alma é livre…
“Se
eu não tivesse a caridade…”
Meu
Deus, e eu que não tenho a caridade!…
Álvaro de Campos (heterônimo de Fernando Pessoa)
Nenhum comentário:
Postar um comentário