quarta-feira, 28 de dezembro de 2022

Se Laura Palmer Morasse na Abolição…

Querido diário:
Hoje escutei no rádio mais de cinquenta e quatro vezes a dupla Leandro e Leonardo (esses caras não jogaram no Flamengo?) cantando aquela merda: “Pensa em mim, liga pra mim, não liga pra ele”. Será que a musa inspiradora desses infelizes também não encontra orelhão funcionando? Telefona logo pra esses pentelhos, querida, e acaba de vez com essa chatice. Meu ouvido não é penico.
Sinto que eu vou ser estuprada e morta. Não é histeria, não. Questão de estatística. Quatro colegas minhas já passaram pela happy hour do Instituto Médico Legal.
Todo mundo aqui na Abolição conhece o tarado assassino. É ele quem investiga as mortes.
Moreno, altão, ex-torturador, joga muito bem vôlei. Quando lhe perguntaram o segredo de sua potente cortada, não vacilou:
- Penso que tô descendo a mão na cara da minha noiva e pronto. Treino todo dia.
De segunda a quinta, com a bola. Sexta, sábado e domingo, com a noiva.
Vi o Collor na TV, cumprimentando as Tartarugas Ninja. O resultado é mais ou menos feito um desenho animado das ditas, com participação especial do Roger Rabbit... Tem horas que me dá um desespero, fico pensando: estudar pra quê?
Melhor pintar a cara feito piranha, comprar umas botas bem escrotas e ir com o Magri para Genebra. A Nancy Reagan deu pro Sinatra em plena Casa Branca e o ti-ti-ti foi bem menor, apesar daquela perua ter dedurado a muvuca na biografia da mocréia. Nossos políticos são medíocres até no escândalo. Como diria o Bóris Yeltsin: é uma ver-go-nha!
Bolei um slogan em defesa do telespectador inteligente: NA BRIGA ENTRE A GLOBO E O SBT, QUEM PERDE OS TAMPOS É VOCÊ ! Sonoro, bacaninha e verdadeiro.
A verdade é que tudo ficou bem mais triste sem a Zélia. Aquele clima de bolero, as brigas com os vilões do empresariado, era uma beleza. Tô com saudade, Zelita! Veja só, querido diário, o que sobrou pra nós: a vida sexual do Marcílio promete ser menos excitante que voyeur olhando pacote de Maizena. Falando em vilões do empresariado, minha irmã mais velha contou uma história ótima: durante o seqüestro de Abílio Diniz, seu filhinho de apenas cinco anos acompanhava as reportagens sem entender nada. Quando a polícia conseguiu finalmente libertar o refém, o garotinho perguntou: Ma-nhê, porque estão soltando o que tem mais pinta de bandido?
Arranjei um namorado novo que tem a estampa do Pavarotti e as idéias do Renato Gaúcho. Quando minhas amigas perguntam como é que eu consigo transar com a peça, respondo, bem sarcástica: imaginando o contrário.
Sem grana pra comprar pílula, bolei um novo método anticoncepcional que não falha. É o seguinte: tem que ficar bem relaxada e procurar gozar primeiro. Se der pra mais de uma vez, perfeito. Aí, é só se mostrar bem carinhosa e pedir pro parceiro não deixar de avisar o momento certinho da ejaculação. Quando ele gritar: já!, é preciso fechar bem os olhos e pensar com fé: se fecundar, vai sair escarrado a cara do Cláudio Humberto. Tiro e queda: O óvulo entra em pânico e se desintegra.
Até amanhã,
sua Laura Palmer.

Aldir Blanc, in Brasil passado a sujo

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