Ele
queria fazer uma canção direta, com poucos acordes, veículo para a
mensagem que pretendia passar. E acertou em cheio. Na forma, no
conteúdo e também na maneira como apresentou “Pra não dizer que
não falei das flores” nas eliminatórias e na final do III
Festival Internacional da Canção Popular, em setembro de 1968.
Enquanto a maioria dos intérpretes subiam ao palco com grande
orquestra, e tropicalistas ainda adicionavam guitarras e grupos de
rock, Geraldo Vandré (1935) abriu mão de qualquer acompanhamento:
apenas sua voz e seu violão.
Voz
e violão que, a cada nova etapa do festival, passaram a ser
amplificados pelo coro da plateia. Até a noite final, em 29 de
setembro, para um Maracanãzinho lotado, quando “Caminhando”
(como ficou conhecida a canção) perdeu o primeiro lugar para
“Sabiá”, de Tom Jobim e Chico Buarque. Esta, mais sofisticada
musicalmente, também tinha uma letra política, falava do exílio e
de um Brasil que se distanciava de muitos de seus encantos. Mas, no
fla-flu que virou a disputa entre as duas, não havia lugar para
sutilezas. A parcela mais esquerdista do público adotou a música do
cantor e compositor paraibano como um hino de resistência ao regime,
com versos como “quem sabe faz a hora, não espera acontecer”,
“acreditam nas flores vencendo o canhão” e “há soldados
armados, amados ou não, quase todos perdidos de armas na mão”.
A
menção às Forças Armadas incomodou especialmente os militares,
quando setores mais radicais passaram a pedir a cabeça de Geraldo
Vandré. Após a decretação do Ato Institucional no 5, em 13 de
dezembro de 1968, o cantor foi obrigado a sumir de cena. Por quase
três meses ele se escondeu na casa de amigos, até sair
clandestinamente do Brasil, em 1969, para um exílio que se prolongou
por quatro anos.
“Caminhando”,
é claro, caiu nas garras da Censura, os discos foram retirados das
lojas e sua execução pública foi proibida. Até 1979, ano da
Anistia, quando finalmente voltou às paradas, regravada pela cantora
Simone. Já o compositor pôde retornar ao Brasil em 1973, no auge da
ditadura, após muitas negociações sigilosas que selaram um acordo
com o governo. Voltou mas não retomou a carreira artística. Desde
então, foram raras suas aparições públicas e a única nova canção
que lançou, “Fabiana”, era uma homenagem à Força Aérea
Brasileira.
Nelson Motta, in 101 canções que tocaram o Brasil
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