Nas
terras onde nasce o rio Juruá, o Mesquinho era o dono do milho.
Entregava assados os grãos, para que ninguém pudesse plantá-los.
Foi
a lagartixa quem conseguiu roubar um grão cru. O Mesquinho agarrou-a
e rasgou-lhe a boca e os dedos das mãos e dos pés; mas ela tinha
sabido esconder o grãozinho atrás do último dente. Depois, a
lagartixa cuspiu o grão cru na terra de todos. Os rasgões deixaram
a lagartixa com essa boca enorme e esses dedos compridíssimos.
O
Mesquinho era também dono do fogo. O papagaio chegou perto dele e se
pôs a chorar aos gritos. O Mesquinho jogava no papagaio tudo o que
tinha à mão e o papagaio esquivava os projéteis, até que viu que
vinha um tição aceso. Então, agarrou-o em seu bico, que era enorme
como o bico do tucano, e fugiu pelos ares. Voou perseguido por um
manto de chispas. A brasa, avivada pelo vento, ia queimando seu bico;
mas já havia chegado ao bosque quando o Mesquinho bateu seu tambor e
desencadeou um dilúvio.
O
papagaio conseguiu pôr o tição candente no buraco oco de uma
árvore, deixou-o aos cuidados dos outros pássaros e saiu para
molhar-se na chuva violenta. A água aliviou seus ardores. Em seu
bico, que ficou curto e curvo, vê-se a marca branca da queimadura
Os
pássaros protegeram com seus corpos o fogo roubado.
Eduardo Galeano, in Os Nascimentos
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